top of page

A ilha encantada

newsletter - Carta de Notícias por Roberto Maxwell

Na costa do Mar do Japão, Sado é um dos lugares mais mágicos que você pode conhecer na Terra do Sol Nascente

Roberto Maxwell

5 de mai. de 2022

A playlist de hoje é um compilado de rock alternativo dos anos 1990, a trilha sonora que eu levaria para uma ilha. Toca aqui ou no player abaixo!




Avise à minha mãe,/ oh brisa do mar/ que estou abandonado/ numa pequena ilha / na costa de Satsuma

O Heike Monogatari (algo como “O conto dos Heike”) é um relato épico sobre a disputa de poder entre dois poderosos clãs — Taira e Minamoto — no Japão do século 12. Logo no começo da obra, somos informados que um grupo de exilados que se encontram numa ilha. Num dado momento, o homem chamado Yasunori começa a sentir tão saudoso de casa que decide criar tábulas de madeira com o poema escrito acima e lançá-las ao mar, na esperança de que alguém os resgatasse. Saudade, isolamento, abandono são alguns dos sentimentos sempre associados às ilhas.


O Japão é formado por milhares desses acidentes geográficos cercados de água por todos lados. As quatro ilhas principais são, do norte para o sul, Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu. Nelas ficam as maiores e mais importantes cidades do país: Tóquio, Kyoto, Osaka, Nagoya, Yokohama, Fukuoka, Niigata, Sendai e Sapporo. A esmagadora parte do que conhecemos como “Japão” ou “cultura japonesa” vem desses lugares.


Acontece que o arquipélago japonês compreende mais de 6 mil ilhas, 90% delas desabitadas. Boa parte é pequena ou inóspita demais para isso. Dentre as populadas, muitas têm histórias e culturas que, por conta do isolamento ou de outros fatores, se desenvolveram de formas muito peculiares e ricas. E isso foi algo que fui descobrindo aos poucos, ao longo dos anos.


Tendo vindo de um país-continente como o Brasil, minha mentalidade “continental” foi posta à prova. Diferente do que imaginava, quem mora em ilhas nem sempre está em busca de ser resgatado. Em muitos casos é o contrário, a ilha pode bem ser o lugar certo para quem vem de fora florescer, se encontrar e se sentir, como nunca, em casa. Aconteceu comigo no Japão. E, quanto mais ilhas eu visito neste país-arquipélago, mais descubro sobre esses microuniversos.

Nesta segunda “carta de notícias”, quero apresentar para vocês um deles, Sado, que é a mais encantadora de todas as ilhas do Japão. Espero que você goste.


Lugar de degredo

A primeira vez que estive em Sado foi em agosto de 2009. A ilha faz parte da província de Niigata, que é banhada pelo Mar do Japão, cuja capital fica a cerca de 2 horas de distância de Tóquio de trem-bala. É desta cidade que sai a barca que leva até o Porto de Ryotsu, principal porta de entrada de Sado.





Era o auge do verão e as 2 horas e meia da viagem marítima passaram quase que num piscar de olhos. As gaivotas de rabo preto costumam seguir a embarcação em uma revoada barulhenta. Os pássaros interagem com os passageiros que insistem em oferecer uns salgadinhos horrorosos para os bichos, chamados em japonês de umineko, algo como “gato do mar”.


Fora da “brincadeira”, costumo subir no deck superior da embarcação só para ver a maestria das aves no voo. É possível perceber todo o processo delas, do reconhecimento do alvo até o preciso “ataque”. Como aves de rapina, os umineko quase sempre conseguem pegar a guloseima da mão de humanos que não se amedrontam.


A chegada em Ryotsu já revela uma das principais dificuldades de quem visita Sado. Quase não tem transporte público, apesar de estarmos numa das maiores ilhas “secundárias” do Japão. Com pouco mais de 854 km2, Sado é mais extensa que a cidade-estado de Singapura. A população, porém, não chega a 56 mil habitantes. Na falta de outros meios de circulação, a maioria anda de carro.


Casas antigas bem preservadas são comuns em Sado (imagem: Secretaria Municipal de Turismo de Sado)

O turismo ainda não ganhou grandes proporções na ilha. O número de visitantes é pequeno, assim como a infraestrutura hoteleira. Sem muitas opções de transporte e com pouca informação em língua estrangeira disponível, Sado atrai mais turistas japoneses. Ainda assim, não muito. A ilha é conhecida por sua importância histórica. No entanto, mesmo dentre japoneses, é difícil encontrar alguém que já a tenha visitado.


Local de degredo desde tempos imemoriais, Sado sempre teve uma reputação de isolamento, apesar de não ser tão distante assim do “continente”. Importantes nomes da história japonesa passaram por lá, por rebeldia ou como vítimas de traição. Para alguns brasileiros, um nome é familiar. Nichiren foi um filósofo e monge budista do século 13. Ele foi o grande propagador do Nam-myoho-renge-kyo, um sutra que se tornou ícone da escola do budismo que leva o seu nome. Por incomodar o bakufu — o poder militar dos xoguns — com seus ensinamentos, Nichiren foi enviado para Sado, onde ficou degredado durante os anos de 1271 e 1274.


Como ele, outros políticos, artistas e agitadores foram colocados de “castigo” por lá, ao longo dos séculos. No Período Edo (1603-1868), desempregados e desajustados da nova metrópole que estava se formando — e daria origem à atual Tóquio —, eram aprisionados e forçados a trabalhar nas minas de ouro de Sado. Paralelo a isso, a cultura do arroz ia se tornando mais forte. O excedente era comercializado fora da ilha, o que gerou uma forte cultura de construção de barcos.


Tudo isso atraía ainda mais gente para Sado e, assim, a ilha ia se desenvolvendo não apenas economicamente mas, também, como uma espécie de laboratório sócio-cultural. Novas formas de arte, em especial tambores e teatro, foram surgindo e enriquecendo a cultura local.


Na batida do coração

No verão, uma pequena horda visita Sado. O mar esmeralda, limpo e convidativo, atrai. Mas quem traz gente para a ilha na época é o Kodo, um dos maiores grupos de tocadores de tambores japoneses do país. A troupe organiza anualmente o Earth Celebration, um festival musical centrado nos batuques japoneses. Até a pandemia, o formato vinha sendo mais ou menos o mesmo todos os anos. O Kodo convida uma atração internacional, com quem divide o palco em uma das noites do evento. Nas outras duas, convidado e anfitrião se apresentam em shows solo. Em 2008, comemoração do centenário da imigração japonesa ao Brasil, participou o Olodum. Deve ter sido um encontro foda!


Particularmente, sinto que os ritmados tambores japoneses batem no ritmo do coração. Durante anos, segui grupos de wadaiko — percussão japonesa — pelo país para assistir suas apresentações. O meu preferido era o Ondekoza, que nasceu justamente na ilha de Sado. O Kodo é uma dissidência dele. O grupo original se formou no final dos anos 1960 com um grupo de jovens insatisfeitos com o que classificavam como ruptura na identidade japonesa, durante o pós-guerra.


Eles não desembarcaram em Sado por acaso. Naquele momento, a mina de ouro já não trazia mais tantas riquezas e a ilha já vivia um processo de decadência econômica. No entanto, a reputação de isolamento continuava intacta. Os membros do grupo mergulharam num disciplinado processo de treinamento e estudo da cultura local, em especial do onidaiko, uma espécie de ritual ao som dos tambores, realizado pela comunidade dos santuários xintoístas da região.


Tambores endiabrados

Foi o onidaiko que me levou a Sado pela segunda vez. Isso foi em 2013. Meu contato com o tão tradicional ritual se deu, pasmem, através de um brasileiro. Casado com uma nativa, o paranaense Henrique caiu em Sado quase que de paraquedas. Mestiço descendente de japoneses, o cara é músico e artesão. Introduziu o berimbau na ilha e, com amigos locais, fundou o Sadrum, um grupo de percussão que toca somente instrumentos feitos de bambu.


Henrique tocando o onidaiko (foto: Roberto Maxwell)

Aliás, o Henrique também tira da planta parte do seu sustento. Além de produzir peças artesanais únicas e cercas com o bambu, ele oferece serviços de manejo dos bambuzais da ilha. Com ele, aprendi que um bambuzal fora de controle é imprestável. E como a planta cresce rápido, o trabalho não para.


Parte da história da integração do Henrique à vida na ilha se deve ao onidaiko. Cada comunidade tem um grupo e, estimulado pela esposa, o paranaense passou a frequentar o do seu bairro. O nome onidaiko é escrito com três caracteres (鬼太鼓) que são a junção de duas palavras. Oni é uma criatura folclórica que se parece um ogro e quase sempre é associada ao mal. Ocidentais costumam traduzir a palavra como “demon” ou “diabo”. Já o daiko é uma corruptela de taiko, ou seja, tambor. A literalidade me permite traduzir, de forma sem-vergonha, onidaiko como “tambor endiabrado”. Mas o negócio é mais profundo.


O tambor é carregado numa espécie de andor (foto: Roberto Maxwell)

O onidaiko é uma arte performática, de cunho sagrado, em que um grupo circula pela comunidade com um tambor carregado como um andor. Duas pessoas tocam um tambor enquanto duas criaturas, o oni e o shishi, dançam. As apresentações começam no santuário ao qual o grupo é vinculado, antes mesmo do sol nascer. A energia deste primeiro momento é indescritível.


Em seguida, o grupo parte para visitar todas as casas da comunidade. Eles realizam a mesma dança, ao som do tambor, nas portas das residências. A procissão só termina quando todas as casas são visitadas. É um trabalho que pode durar mais de 24 horas.


Relacionar o oni com o diabo é algo bastante complicado. Na real, ele é uma criatura difícil de definir. É possível dizer que o oni representa infortúnios e outras coisas más da vida. No passado, tudo o que acontecia de ruim poderia ser associado a um oni. Na época do Setsubun, o festival do início da primavera, as pessoas atiram grãos de soja na porta de suas casas gritando “oni wa soto, fuku wa uchi”, um pedido para que o oni se mantenha fora da casa, permitindo a entrada da prosperidade.


Acontece que, com o tempo, a criatura passou a ser relacionada, também, ao ser humano. Ou seja, como todos nós podemos agir ou fazer o mal, temos um oni dentro de nós mesmos. Isso cria empatia e, por isso, o oni é tão respeitado e até venerado no Japão. Não pelo mal que podem causar mas, sim, justamente como forma de tê-lo sob controle. Além disso, existem lendas mostram o oni em diversas situações, inclusive como patrono da agricultura e do uso de ferro.


Neste último caso, diz-se que é porque a fundição foi trazida de fora do Japão. Neste caso, o estranho/estrangeiro é um oni que trouxe algo de bom para a comunidade.


Oni, um dos protagonistas do onidaiko (imagem: Secretaria Municipal de Turismo de Sado)

O shishi, por sua vez, é um ser que fica entre o cão e o leão e tem o poder de espantar os maus espíritos. Ele tem várias representações. Uma delas é o koma inu, visto sempre em pares na entrada dos templos budistas e santuários xintoístas. Ele é o contraponto ao oni e, no onidaiko, as duas forças precisam estar em equilíbrio. Para tanto, os dançarinos debaixo das fantasias — escolhidos dentre os membros jovens da comunidade — devem estar concentrados e ser determinados. No final das contas, o onidaiko é o equilíbrio entre os opostos.


De volta à performance, na maioria das casas, a troupe é recebida com comida e bebida pelos moradores. Além disso, uma oferta em dinheiro é doada ao santuário. Como Sado é uma ilha com conhecida produção de saquê, o fermentado é abundante nos encontros, embora a cerveja também seja bem popular.


Nessa toada, não é difícil de imaginar que, em poucas horas, os membros do onidaiko estão bêbados e o esforço para manter o ritmo é ainda maior. Eu, que só estava com a câmera na mão, já estava cansado em apenas algumas horas. Quando deu meia-noite, pedi arrego e voltei pro santuário, onde cochilei até o retorno do grupo para a dança de encerramento, quase duas horas depois. Agora, os movimentos já são mais lentos, menos precisos. Porém, a energia que paira no ar é a mesma.


Com a tarefa cumprida, os membros celebram mais uma vez e, por fim, voltam para as suas casas, muitos já pensando no ano seguinte. Foi essa tradição, passada de geração em geração, que alimentou os jovens urbanos desembarcados em Sado no final dos agitados anos 1960.


Do santuário para os palcos

Bebendo na fonte do onidaiko e de outras artes e instrumentos tradicionais, o Ondekoza se tornou um fenômeno em meados dos anos 1970. Eles adaptaram a música ritual para os palcos, criando uma orquestra de tambores e sopros, com forte influência dos populares emsemble de jazz. Além disso, no visual, o grupo adotou vestimentas típicas dos festivais japoneses, incluindo o fundoshi, uma espécie de cueca que, mais tarde, virou a marca registrada dos grupos de wadaiko. Aliás, vale ressaltar que a ideia de expor os corpos dos tocadores homens veio do estilista Pierre Cardin, impressionado com o físico dos artistas.


Ondekoza, em apresentação de 2013, em Tokamachi, também na província de Niigata (foto: Roberto Maxwell)

No início dos anos 1980, uma briga entre os membros dividiu o grupo. Uma parte saiu da ilha com o líder Den Tagayasu e levou consigo o nome e os tambores. A outra, seguiu em Sado e se recompôs como Kodo. Ambos os grupos estão em atividade até os dias de hoje. O Ondekoza está baseado em uma cidade aos pés do Monte Fuji e adota uma postura mais underground. Já o Kodo é mais mainstream, embora sempre com uma pegada (genuína) de integração, defesa do ambiente e da cultura local.


Teatro do povo

Sado também é o berço de uma forma de teatro única, fruto da riqueza trazida pelo ouro. O nô é um tipo de teatro ancestral, cantado e de ritmo lento. O estilo é difundido pelo país mas, em Sado, ganhou uma forma especial. Enquanto o nô profissional exige um treinamento com dedicação exclusiva por anos, em Sado as peças são encenadas por atores amadores, membros da comunidade. Por isso, o teatro da ilha é conhecido como o “nô do povo”.


Por causa das minas de ouro, Sado não fazia parte de nenhum feudo no Período Edo, sendo a ilha subordinada diretamente ao xogum que apontava um comendador. Okubo Nagayasu foi o primeiro deles. Ele trouxe consigo o teatro nô, incluindo aí especialistas para difundir as técnicas na ilha. Assim, a elite do ouro de Sado passou a admirar o nô. Saber cantar alguma das peças era bem visto entre os abastados da época.



Performance de nô (imagem: Secretaria Municipal de Turismo de Sado)


Aos poucos, o teatro passou a se espalhar entre o povo e ganhou guarita nos templos budistas e santuários xintoístas da ilha. E nos palcos populares dos espaços sagrados que se assiste nô em Sado até os dias de hoje, à luz das tochas. Acompanhar um espetáculo de nô é um desafio. As falas são recitadas/cantadas numa espécie de japonês antigo que nem sempre os locais entendem. Mas em Sado o ambiente faz a coisa se tornar mágica.


A programação de nô para 2022 está a todo vapor desde abril, com os espetáculos abertos ao público. A temporada está prevista para rolar até outubro. Quem lê japonês pode procurar o libreto da peça na internet, o que ajuda a acompanhar a ação. Já assisti a um espetáculo cujo texto encontrei também traduzido para o inglês. A apresentação costuma durar pouco mais de uma hora, custa a partir de ¥1000 e vale muito a pena assistir.


Outras experiências

Caminhar pelas ruas de Sado é como fazer uma viagem no tempo. São poucos lugares no Japão onde se pode ver um casario antigo tão bem preservado. Aliás, a maioria das casas está em uso. Então, não é algo congelado no tempo, como em zonas turísticas. Porém, como todo o interior do Japão, Sado vem sofrendo com o envelhecimento populacional. Assim, também é comum ver casas fechadas e abandonadas. Isso tem atraído gente de fora, que vem ocupando os espaços de diversas formas. Então, é possível ver as comunidades renascendo aos poucos, com novos restaurantes, pousadas e outros negócios. A coisa está rolando num ritmo bem orgânico e de forma integrada com o entorno, o que evita a gentrificação.


Na minha última visita à Sado, quando fiz uma vivência de produção de saquê na Gakkogura, fiquei na região de Mano. A sugestão foi da escola, que é gerida pela Obata Shuzo, uma fábrica de saquê da região, que também faz uma curta visita guiada. Aproveite para fazer uma degustação.


Próximo à Obata ficam algumas hospedarias. O Itoya é um ryokan no estilo clássico. Os quartos são de piso de tatami, pequenos mas aconchegantes. Já o banho é coletivo, com ofurô e chuveiros no primeiro andar. A casa também tem um restaurante razoável. Outra opção na vizinhança é o Shimanokaze, uma guest house muito usada pelos jovens japoneses que visitam a ilha. O restante da minha turma na Gakkogura se hospedou lá e o casal proprietário é demais! Eles até me adotaram como hóspede e me levavam para todos os rolês do grupo.


Num desses movimentos, o casal nos levou para o Shikina Kappou DEN, um izakaya que se tornou o meu restaurante favorito na ilha. O chef, com experiência em cozinhas de Tóquio, comanda uma casa simples, com comida de excelente qualidades, extraindo o máximo dos ingredientes da ilha, em especial os frutos do mar. Recomendo!



Antigas casas dos barqueiros de Shukunegi (foto: Shochan KSD/Photo AC)

Para passear, gosto muito das vilas de Aikawa e Shukunegi. A primeira é onde ficava a sede da mina de ouro. Kyomachi é o bairro formado pelas ruas que ligam a mina ao centro de Aikawa, à beira-mar, ladeira abaixo. Na principal viviam os oficiais e trabalhadores mais graduados. Nela fica o charmoso Gashima, a única sala de cinema de Sado, criada numa antiga residência. O espaço também funciona como café e vale a pena dar um pulo lá.


Transformada em um enorme museu, a área de produção da mina dá uma ideia bem realista da barra pesada que era trabalhar por lá. Além disso, o entorno florestado é belíssimo. É um programa bem turístico, mas que vale muito a pena.

Shukunegi, por sua vez, era o bairro onde viviam os construtores de barcos. A vila de casas de madeira pretas é charmosíssima, super compacta. Algumas das residências foram transformadas em museus. Entre e descubra como os antigos moravam. Ah, não deixe de almoçar no Anaguchi-tei, que fica dentro da vila e serve um macarrão de trigo sarraceno sobá com tempurá bem gostosinhos.


Aproveita a visita a Shukunegi para passear no taraibune, um barquinho em forma de barril, usado antigamente pelas pescadoras locais. Gosto de embarcar no portinho que fica em frente à entrada de Shukunegi, no qual os taraibune ainda são feitos de forma artesanal pelo proprietário.


Outro espaço que vale conferir é o Tatakokan, montado pelo Kodo para oferecer aulas e experiências com os tambores japoneses. Só fica de olho porque o espaço não funciona durante o Earth Celebration, que rola durante os dias 19 e 21 de agosto.



No Tatakokan é possível fazer experiências com o tambor japonês (foto: Roberto Maxwell)

Aliás, falando no festival, a programação para 2022 ainda não foi liberada. Porém, o convidado do ano já foi divulgado e é o artista japonês Miyavi. São vendidos ingressos para cada apresentação e um passaporte para os três dias. Como não tem muita coisa para fazer à noite na ilha, acho válido ver os três shows.


Além do palco principal, eventos paralelos rolam na área de Ogi, onde fica o segundo porto de passageiros da ilha. Ali, existem cafés, galerias de arte, restaurantes e uma série de cantinhos que valem a visita.


Os visitantes costumam se despedir da ilha no dia seguinte ao fim do Earth Celebration. Os portos de Ogi e Ryotsu ficam lotados de gente voltando para casa. Não é exagero dizer que está todo mundo com o semblante brilhando, a aparência de quem volta para casa renovado.


Já estava dentro do primeiro barco da manhã quando, de repente, ouvi ao longe o som dos tambores. Achei que estava delirando, inebriado pelo show da noite anterior. Corri, como todo mundo, para a lateral da barca e lá estavam eles, os membros do Kodo, fazendo uma última performance. É o okuridaiko, os tambores da despedida. Não consigo evitar. Mesmo depois de tantos anos, meus olhos se encheram novamente de lágrimas, como na primeira vez.


Sado é a prova de que é possível sair de uma ilha repleto de vida, energia e saudade. Nada mais distante do sentimento de solidão e isolamento que as ilhas evocam na literatura, na música... Pelo contrário, daqui do continente não paro de contar as horas para voltar para a minha ilha encantada.


Serviço
Como chegar em Sado?

O principal acesso a Sado é o Porto de Niigata. De Tóquio, embarque no trem-bala Shinkansen da linha Joetsu e vá até Niigata, o ponto final da linha. O porto fica a cerca de 15 minutos de ônibus da estação da cidade. Dali, saem dois tipos de barco para Sado. A barca normal (a partir de ¥2.180) faz a viagem em 2 horas e meia. São cinco horários por dia. Já o jetfoil (¥6.900) leva cerca de uma hora, também cinco vezes ao dia. Nos dois casos, o desembarque será no porto de Ryotsu, de onde o acesso para outras partes da ilha é mais fácil.


Outra opção, melhor para quem vem de Osaka ou de Kanazawa pode ser embarcar no Porto de Naoetsu. Neste caso, pegue o Hokuriku Shinkansen e desça na estação de Joetsumyoko. De lá, o ônibus leva cerca de 30 minutos até o porto. Aqui, o único serviço regular oferecido é o jetfoil (¥7.110) e o desembarque em Sado será em Ogi, área onde estão os palcos e eventos do Earth Celebration.


Acesse o site da companhia Sado Kisen para reservas mais informações sobre os serviços.


Como circular em Sado?

Como dito, o sistema de transporte público em Sado é bem limitado. Melhorias foram feitas nos últimos anos e, em datas de eventos, serviços especiais de ônibus costumam ser oferecidos. Para as linhas regulares, serviços de tour para grupos e táxis privados confira a página de turismo da cidade de Sado.


Onde ir?

Montei um mapinha com os meus lugares preferidos de Sado, incluindo os citados no texto e umas coisitas a mais. Clique em cada item do mapa para saber do que se trata. Confira aqui.


O que ver?

Earth celebration, festival de tambores japoneses (em inglês)

Calendário das apresentações de nô para 2022 (em japonês)


Saiba mais

Cápsula do tempo, matéria minha sobre Sado para o Nossa Uol

A sala de cinema mais charmosa do mundo fica no Japão, matéria minha sobre o Gashima Cinema para a Tokyo Aijo

O outro lado do mundo ep. 10, série que eu dirigi para o portal Alternativa Online. Neste episódio, conto a história do Henrique em Sado e mostro o onidaiko

Kodo, fresquinho livestream da apresentação do grupo em Shukunegi no dia 29 de abril (disponível somente até o dia 14 de maio)

Meu álbum de fotos da performance do Ondekoza em Tokamachi, no ano de 2013




bottom of page