top of page
Calor_Kato1.jpg

Ventiladores e borrifadores, paliativos no verão toquiota/imagem: Carlos Kato

carta do editor
CALOR NO JAPÃO É PERRENGUE ATÉ PARA CARIOCA

Cheguei ao Japão em outubro, há 16 anos, um mês de dias bonitos e temperaturas amenas. Estava extremamente empolgado com essa minha primeira experiência de vida no exterior e tudo para mim era meio mágico. Ia para a universidade de bicicleta todos os dias e o Monte Fuji, com um pouco de neve no topo, era meu companheiro de trajeto. Já conseguia imaginar o inverno na província de Shizuoka, lugar que eu escolhi depois de extensa pesquisa justamente para não passar perrengue na estação mais fria do ano. Tudo foi divino e maravilhoso. Apesar de um aperto aqui e ali, me virei com os agasalhos que usava nas noites serranas do Rio de Janeiro e o reforço de uma jaqueta de couro que achei num brechó. Me senti super bem-adaptado, aprovado com louvor no desafio do clima.

A porca só foi torcer o rabo seis meses mais tarde, quem diria, no verão. Como expressou em seu texto nesta edição o também carioca Rodrigo Esper, quem espera que o calor japonês seja pior do que os ônibus lotados que a gente pega no Rio de Janeiro? Nem eu, nem ele. Meu primeiro verão foi um inferno e isso porque eu ainda não tinha me mudado para Tóquio. As temperaturas nem parecem ameaçadoras: 35 graus é fichinha para quem estava acostumado a ver os relógios urbanos do Rio parecerem uma obra de Picasso. Mas na capital japonesa a tal da sensação térmica poderia ser definida como uma mistura de “sol queimando na moleira” com “mergulhando no próprio suor”.

Nem os quimonos de verão salvam no calorão/imagem: Carlos Kato

Por isso, me pareceu natural que esta edição fosse dedicada ao calor. De certo modo, era uma forma de contar para você como o sol e as altas temperaturas influenciam as nossas vidas no Japão de várias maneiras. Piti Koshimura (com fotos de Meg Yamagute) vem com um texto esclarecedor sobre como os raios solares são vistos como um dos maiores inimigos pelas mulheres japonesas. Já Bruna Zapata dá a dica de como os toquiotas escapam do calor fugindo para as montanhas. Ewerthon Tobace, por sua vez, nos conta como o coletivo de arte teamLab aposta no calor para levar seus visitantes ao transe na exposição mais quente de Tóquio. Já Mirela Mazzola mostra que em Kyoto, a outra capital, os locais sabem fugir do calor com muito estilo. Da minha parte, convido vocês para conhecer Sangenjaya, um bairro que é o mais novo “hot spot” da capital japonesa.

Nas Páginas Vermelhas, nossa seção de gastronomia, Carlos Kato apresenta as versões de verão de pratos japoneses conhecidos. Denise Makimoto e Camila Ogawa nos apresentam sobremesas que são verdadeiros refrescos neste calorão que é o verão toquiota. Carol Pezzutto e Raphael Tanaka contam histórias que mostram como o calor brasileiro atravessou o planeta e chega até o Japão mostrando que, apesar das más notícias, nosso país ainda é influência mundo afora. Para encerrar a edição, convidamos a escritora e contadora de histórias Grace Okamoto para contar — e cantar — uma linda lenda de verão, para você ter um momento cheio de aconchego com as crianças da sua vida.

Nesta edição, Tokyo Aijo chega quentinha às suas mãos por outro meio. Toda a revista está online, em html, diretamente no nosso site, para você ler sem muito esforço em qualquer aparelho. Tenho acompanhado daqui que o inverno no Brasil anda mais frio que o normal. Espero, então, compartilhar um pouco do nosso calor japonês com você por meio da revista. Boa leitura!

ROBERTO MAXWELL
editor-chefe
bottom of page