tradição refrescante
TODOS OS TONS DE CHÁ VERDE
Uma das áreas mais turísticas de Tóquio, Asakusa tem uma deliciosa faceta: os endereços que servem sorvetes à base de matchá
texto e fotos: Camila Ogawa
Um dos primeiros destinos turísticos que conheci quando cheguei a Tóquio, há quatro anos, Asakusa tem um significado especial – e que continua se renovando, já que a área concentra algumas docerias tradicionais que preparam sorvete de matchá, bebida que é hoje uma das minhas grandes paixões.
Estive no bairro pela primeira vez durante o festival Sanja Matsuri e ainda lembro do choque ao olhar ao redor e ver uma cultura tão gritante, a tal mistura de tradição e modernidade que, apesar do clichê, fez com que eu me apaixonasse de forma instantânea por esse pedaço de Tóquio.
A história de Asakusa como distrito de lazer remonta ao Período Edo (1603-1867), pois era onde os bem-sucedidos vendedores de arroz gastavam seu dinheiro em apresentações de teatro kabuki e casas de chá das gueixas. Após ser destruído durante a Segunda Guerra Mundial, o bairro perdeu um pouco do seu glamour pós-reconstrução e acabou deixando o posto de centro de entretenimento para áreas como Kabukicho, em Shinjuku.
No entanto, os ares de Japão antigo seguem firmes graças ao templo budista mais antigo de Tóquio, o Senso-ji, que chegou a atrair 30 milhões de visitantes anuais antes da pandemia.
Mas há outros atrativos, inclusive gastronômicos, como o melonpan (pão doce e arredondado que lembra o formato de um melão), o dango (doces de arroz glutinoso) e o biscoito senbei. Embora a energia de Asakusa baste para eu embarcar na icônica Linha Ginza do metrô e atravessar a cidade para chegar ao bairro, minhas visitas mais recentes têm um atrativo a mais: os queridinhos sorvetes de matchá, uma ideia ainda melhor durante o verão impiedoso da capital japonesa.
Nakamise, o icônico calçadão de Asakusa, é um paraíso de delícias
Notas sobre matchá
Em tradução livre, matchá significa chá verde em pó. A bebida, extraída da planta Camellia sinensis, foi introduzida no Japão pelo monge budista Eisai, no século 12, após uma visita à China. No começo, o consumo de matchá ocorria apenas dentro dos monastérios, mas durante os séculos 14 e 15 a bebida ganhou a elite japonesa – apenas no século 19 o consumo se popularizou entre outras classes.
O título de nobre representante do chá verde japonês do matchá muito se deve ao cuidado dedicado em processos de produção, considerada por muitos uma arte. Para dar origem ao matchá, a Camellia sinensis é coberta por cerca de 20 dias antes da colheita – isso inibe a fotossíntese e libera um intenso sabor umami, além do verde vibrante. Os matchás de alta qualidade são colhidos à mão e somente as menores e mais novas folhinhas são selecionadas. Imediatamente após a colheita, para evitar a oxidação e manter a coloração, as folhas são vaporizadas em alta temperatura e então, passam pelo processo de resfriamento e secagem. Após essa etapa, as folhas são selecionadas, os caules e veias são removidos, dando origem ao tencha, a matéria-prima para a produção do matchá.
Matchá: chá em pó
O passo final é aquele que transforma o tencha em matchá, quando as folhas são esmerilhadas, muitas vezes em um moedor de pedra, transformando as folhas em um pó verde vibrante e extremamente fino. Esse último processo é longo e a quantidade de matchá produzida por hora pode variar entre apenas 30 a 70 gramas. Tudo isso faz com que o matchá de qualidade seja um produto caro (para se ter uma ideia, 30 gramas podem custar mais de 100 dólares).
Embora o matchá seja tradicionalmente consumido durante a cerimônia do chá, sua versatilidade e poder de adaptação fez com que o pó verde alcançasse mais pessoas e tomasse novas formas, entrando no preparo de bolos, bebidas à base de leite e sorvetes,
por exemplo.
A seguir, veja uma seleção de casas em Asakusa.
Embora o matchá seja tradicionalmente consumido durante a cerimônia do chá, sua versatilidade e poder de adaptação fez com que o pó verde alcançasse mais pessoas e tomasse novas formas, entrando no preparo de bolos, bebidas à base de leite e sorvetes, por exemplo. A seguir, veja uma seleção de casas em Asakusa.
UMEZONO
Tokyo-to Taito-ku Asakusa 1-31-12
www.asakusa-umezono.co.jp (em japonês)
Praticamente na rua mais icônica de Asakusa, a Nakamise Dori, que guia os visitantes até o imponente Senso-ji, a ampla loja de esquina tem uma vasta gama de doces tradicionais japoneses. O nome da casa, fundada em 1854, pode ser traduzido como “jardim de ameixeira” e é uma referência às árvores do entorno em tempos passados.
O sorvete de matchá servido aqui vem abraçado por uma panqueca de dorayaki no lugar da casquinha. Embora seja um pouco mais doce que as outras opções dessa lista, tem o sabor equilibrado pela panqueca japonesa, quase sem açúcar.
KAMINARI ISSA
Tokyo-to Taito-ku Hanakawado 1-15-9
www.kaminari-issa.com (em japonês)
Especializada em apetitosos doces de matchá, tem três filiais espalhadas no entorno do Senso-ji. Além dos doces e sorvetes, há várias opções de chá para levar para casa e o matcha experience, onde você pode aprender mais sobre a bebida, moer e degustar seu próprio matchá.
O sorvete pode ser consumido em um espaço próprio, com decoração elegante e simplista, bastante frequentado por mulheres vestindo os seus quimonos durante uma pausa na visita ao bairro. O sorvete oferecido no menu é feito com matchá de Kyoto, considerada a mais tradicional produtora de chá do Japão. É possível escolher a concentração do pó no sorvete: 2,5% para quem prefere mais doce e 3,5% para quem curte o gosto de matchá mais acentuado.
SUZUKIEN ASAKUSA
Tokyo-to Taito-ku Asakusa 3-4-3
www.tocha.co.jp (em japonês)
Em uma rua menos movimentada atrás do Senso-ji, a casa de chá com mais de 150 anos pode ser encontrada pelas recorrentes filas do lado de fora – isso porque carrega o título de preparar o sorvete de matchá mais intenso do mundo.
Ao entrar na loja, a primeira coisa que chama atenção é o degradê de tons de sorvete na vitrine, com sete níveis diferentes (sendo o número 1 com a concentração mais baixa e o número 7 o mais rico de todos, com um sabor intenso). A matéria-prima é oriunda de Shizuoka, maior região produtora de chá no Japão. Afora o sabor matchá, a Suzukien oferece outras opções de sorvete, como gyokuro (extraído a partir de folhas nobres e bem jovens de Camellia sinensis), hojicha (com o chá torrado) e genmaicha (com adição de grãos de arroz integral), e possui uma ótima seleção de produtos para quem quiser levar um pedacinho da loja para casa.
CAMILA OGAWA é designer, criadora de conteúdo e empreendedora. Chegou ao Japão em 2017 e, desde então, é cada vez mais apaixonada pelas simbologias do país. Atualmente se dedica a aprender japonês, estudar sobre chá e fotografar a capital japonesa.