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newsletter - Carta de Notícias por Roberto Maxwell

O que um passeio pelos banheiros urbanos pode mostrar sobre a capital japonesa

Roberto Maxwell

24 de set. de 2022

Não vou mentir para vocês, mas a melancolia tomou conta nos últimos dias e nenhum som representa mais esse sentimento do que pop rock alternativo. Por isso, fiz uma seleção de bandas e artistas dos anos 2000 no estilo. Toque aqui ou no player abaixo.




O meu maior pesadelo vivendo no Rio de Janeiro era precisar fazer o número dois fora de casa. Numa cidade conhecida pelos assaltos constantes, eu tinha medo mesmo era de precisar de um banheiro público. Até dentro de shopping centers e espaços comerciais de alto nível, não havia nenhuma garantia de que um sanitário minimamente higienizado estaria disponível.


Nas minhas parcas aventuras fora do estado (e do país) à época, as coisas não me pareciam muito diferentes. Me lembro, particularmente, de uma situação impublicável que presenciei num banheiro na estação do Rossio, em Lisboa. Foi a primeira vez que eu vi um sanitário de chão e, honestamente, não tenho boa recordação. Todas essas experiências me fizeram ter a ideia de que a melhor coisa que poderia ocorrer era nunca precisar de banheiro público.


Isso só começou a mudar quando cheguei ao Japão. Banheiros de shopping center, por exemplo, são excepcionalmente limpos, com raríssimas exceções. O mesmo ocorre em restaurantes e lojas de conveniência. Estas últimas, aliás, são onipresentes e merecem um destaque. Quando me mudei para cá, a discussão era se os banheiros das konbini — modo como essas lojinhas são chamadas em japonês — podiam ou não ser usados por pessoas que estavam só de passagem.


Na época, muitos comerciantes restringiam o uso aos clientes. Outras deixavam mensagens solicitando aos usuários que pedissem permissão aos atendentes antes de usar os sanitários. Hoje, a maior parte das konbini entendem o banheiro como um serviço gentil, oferecido a todos, entendidos como potenciais clientes. Ninguém precisa mais pedir permissão. Basta entrar e usar. Acho isso civilizadíssimo. Afinal, quem nega banheiro não merece ter clientes.

A minha maior surpresa, no entanto, foi com os banheiros de parques e praças. São espaços de manutenção difícil, mas que quase sempre têm um ou mais sanitários públicos. De um modo geral, as instalações são um pouco mais abertas do que a gente gostaria que fossem. O banheiro masculino costuma ser, digamos assim, bem devassado. Em muitos casos, os mictórios ficam bem visíveis para quem está de fora. Não dá pra ver pi-piu de ninguém, mas é por muito pouco. O feminino — bem como os reservados do masculino — já são menos visíveis para quem está de fora.


Mesmo quando o banheiro está bem deteriorado, higiene quase nunca é problema. Por incrível que pareça, mesmo parques de grande dimensão costumam ter banheiros com um padrão de limpeza muito acima do que esperamos deste tipo de aparelho urbano. Não me lembro, também, de ter ido num banheiro de parque que não tivesse papel higiênico. Além disso, muitos costumam ter algum tipo de sabonete para as mãos, em alguns casos dentro de sacos do tipo rede, aqueles que usados para colocar limão ou laranja, amarrados à torneira. Um sabonete dentro daquilo faz uma espuma ótima!


Enfim, por tudo isso, posso dizer que foi no Japão que passei a confiar nos banheiros públicos. Ir ao banheiro fora de casa quase sempre não é problema, ainda mais que, em muitos casos, os sanitários costumam ser equipados até com vasos tecnológicos, aqueles que soltam até jato de água para limpar o fiofó. Papel higiênico até soa demodê.



Antigo banheiro em parque público de Shibuya: velho, mas funcional (foto: Roberto Maxwell)


Escuro, sujo, fedido e amedrontador

No entanto, os japoneses não compartilham comigo essa visão tão positiva dos sanitários urbanos. Não é incomum ver na literatura sobre urbanismo no Japão que os banheiros públicos são definidos pela população como 4K: kurai (escuro), kitanai (sujo), ku’sai (fedido), kowai (amedrontador). Além disso, foi constatado que as mulheres evitam usá-los e que eles são considerados pouco amigáveis para crianças e pessoas com deficiência. Para completar, muitos usuários também dizem que os banheiros são difíceis de identificar/localizar, em especial quando se trata de uma situação de urgência.


Esse foi o pano de fundo usado para o desenvolvimento do Tokyo Toilet, um projeto realizado pela Fundação Japão em parceria com a Prefeitura de Shibuya e a associação de turismo da cidade. Um dos 23 municípios que compõem a área mais central da ProvÍncia Metropolitana de Tóquio, Shibuya é conhecido pelo maior cruzamento do mundo, uma área minúscula por onde costumavam atravessar mais de 2 milhões de pessoas por dia em tempos pré-pandêmicos.


Apesar de ser um dos principais cartões postais do Japão, o Cruzamento de Shibuya é apenas a parte mais central do bairro mais visitado deste município de quase 240 mil habitantes. Além das áreas residenciais, fazem parte de Shibuya um dos maiores parques urbanos do Japão, o Yoyogi; um dos principais polos de moda do país, Harajuku; uma das zonas boêmias mais descoladas de Tóquio, Ebisu; e um dos bairros preferidos dos expatriados na capital japonesa, Hiro-o.



Mapa da Província Metropolitana de Tóquio, com o município de Shibuya (em rosa), destacado dentre os 23 Municípios Especiais (em cinza) [fonte: Goo]


Portanto, revitalizar os banheiros públicos de Shibuya é atender a uma diversidade de demandas que torna o projeto ainda mais desafiador.


Múltiplos olhares

Dentre os arquitetos japoneses, é comum dizer que os sanitários urbanos são o “menor dos projetos públicos de arquitetura”. Não precisa pensar muito para concluir, também, que eles são alguns dos mais delicados. Ir ao banheiro é uma necessidade básica de todos os seres humanos. Envolve, também, questões como intimidade, vulnerabilidade, asseio, saúde, gênero, sexualidade, acesso...


Yanai Koji é o vice-presidente da Uniqlo, uma empresa japonesa que é a terceira maior rede de fast fashion do mundo. Ele é o idealizador do Tokyo Toilet. O projeto inteiro conta com 17 banheiros, 14 dos quais já foram entregues à população de Shibuya. Boa parte deles é localizado em parques de áreas residenciais. Mas existem banheiros, também, em áreas de grande circulação de pessoas.


Em palestras e entrevistas, ele conta que a uma frase o inspirou na criação do Tokyo Toilet:

O design é a solução de um problema.A arte é o questionamento do problema.(John Maeda)

Sendo assim, Yanai decidiu convidar para o projeto não apenas arquitetos mas, também, artistas, estilistas, designers de diversos ramos e um acadêmico. A ideia era considerar os inúmeros fatores envolvidos e buscar olhares diversos para apontar soluções para as questões que fossem sendo apresentadas.


Foi assim que ele montou um time que vai de nomes óbvios em projetos do tipo — como os arquitetos Kuma Kengo, Ando Tadao, Ito Toyo e Ban Shigeru — até colaborações improváveis como a do estilista e produtor musical Nigo, que cresceu no bairro em que seu banheiro foi instalado.



A Casa: projeto do estilista Nigo, inspirado na história do bairro de Harajuku (foto: Roberto Maxwell)


Uma parceira do projeto é a Toto, fabricante de louças para banheiros, que se tornou conhecida pelo pioneirismo na incorporação de tecnologias em vasos sanitários. Recursos de higiene como jatos de ar, sonorização e automação foram empregados nos banheiros do Projeto Tokyo Toilet.

A acessibilidade também não foi esquecida. Além dos suportes de mobilidade para cadeirantes e outros, os banheiros são equipados com pia para ostomizados, leitura tátil, trocador de fraldas e cadeira de proteção para bebês.

Tudo isso com um design elegante e de fácil entendimento, tornando os banheiros acessíveis também para quem não lê japonês. As informações dos inúmeros botões que costumam confundir os estrangeiros estão em inglês e japonês, além de usar iconografia de fácil entendimento.


Mantenha o seu banheiro limpo

Um enorme desafio num projeto deste porte é a manutenção. O Japão vende a si mesmo como um país em que a higiene é levada muito a sério. De fato, isso é extremamente importante para as pessoas. Não é pouca gente que se surpreende com a limpeza das ruas de Tóquio, por exemplo. Porém, a capital japonesa é uma megacidade, frequentada por todo tipo de gente.

Um dos motivos que afastam usuários dos sanitários públicos é a falta de asseio. Por isso, o Tokyo Toilet conta com uma equipe que faz a manutenção dos espaços três vezes ao dia. Para passar segurança aos usuários, uniformes específicos foram criados a identificação dos funcionários da limpeza dos banheiros. Os macacões azuis levam a assinatura do estilista Nigo, atual diretor criativo da Kenzo, uma das mais importantes casas de moda do Japão.

Não está claro quantas equipes trabalham na manutenção, mas o fato é que o pessoal deve estar tendo trabalho. Antes de soltar essa Carta, visitei todos os sanitários para ver em que condições estavam. Peguei uma bicicleta e circulei pelos banheiros no período entre 19 e 22 horas de uma quarta-feira.

Para iniciar, é preciso dizer que os banheiros realmente são úteis. Durante as visitas, só teve um deles que eu não vi ser utilizado. Todos os demais, mesmo os localizados em áreas sem muita movimentação noturna, tiveram pelo menos dois usuários apenas nos poucos minutos em que estive neles.




Banheiro do projeto no bairro de Hiro-o: uso proibido por causa de defeito na porta (foto: Roberto Maxwell)


Embora, de um modo geral os banheiros estivessem razoavelmente limpos, constatei que alguns não estavam em bom estado de conservação. Encontrei lixo em um e o vaso cheio de papel higiênico em outro. Um outro estava com a parede de vidro rachada. Dois tinham problemas de funcionamento: em um a tecnologia de acesso por voz estava inacessível; no outro, a porta de abertura automática não funcionava.

Recentemente, o diretor alemão Wim Wenders anunciou que irá produzir um filme tendo os banheiros do Tokyo Toilet como cenário e com o ator japonês Yakusho Koji como protagonista. É de se esperar que esses problemas sejam resolvidos em algum momento antes do início das filmagens, cuja data ainda não foi divulgada.


Transparências

Cada um dos banheiros do projeto tem uma história e peculiaridade. No entanto, nenhum deles ganhou tanta popularidade quanto o criado pelo arquiteto japonês Ban Shigeru. Inaugurado em agosto de 2020, o banheiro com paredes “transparentes” ganhou destaque em todos dos mais importantes veículos de mídia do planeta e tomou de assalto as redes sociais.

Segundo o release de apresentação do projeto, as paredes translúcidas têm como função oferecer aos usuário a possibilidade de verificar, antes da entrada, a condição de asseio do banheiro e se há alguém dentro dele. Porém, a curiosidade do público foi além. Todo mundo queria saber como o sanitário de paredes “transparentes” iria se comportar em caso de falta de energia elétrica. A pessoa que está ali em seu momento íntimo seria exposta, de surpresa, para todo mundo no parque?






Banheiro “transparente”, a estrela do Projeto Tokyo Toilet (foto: Roberto Maxwell)

A resposta é não. De forma bem simples, o mecanismo que causa a “transparência” no vidro é que precisa da energia elétrica. Na falta dela, os vidros se tornam opacos. O que acontece quando o usuário tranca a porta do banheiro é o corte do fornecimento de energia que torna as paredes translúcidas.

O Tokyo Toilet, no entanto, vai muito além do banheiro “transparente”. Os criadores trouxeram diversas questões à tona. Fatores culturais, históricos, tecnológicos, de gênero e sexualidade, dentre outros, foram levados em consideração. Isso certamente é uma das razões pelas quais muita gente, dentro e fora do Japão, ficou muito empolgada com o projeto.

Eu, inclusive. Por isso, criei um roteiro para um passeio de um dia por Shibuya, de bicicleta, tendo os banheiros como pontos de referência.

Ter optado pela magrela para fazer o passeio tem algumas razões. A primeira delas é que a área a ser visitada é grande demais para um rota a pé. Além disso, sou um grande defensor do uso da bicicleta em Tóquio. Mesmo com a grande oferta de transporte público na metrópole, a verdade é que alguns deslocamentos poderiam ser feitos facilmente de bicicleta. Muitos turistas, no entanto, têm receio de pedalar em cidades desconhecidas, ainda mais quando a urbe é massiva como Tóquio.

Por incrível que pareça, o trânsito é menos assustador na capital japonesa do que em outras cidades gigantescas, como São Paulo ou Nova Iorque. Além disso, o acesso a bicicletas para não residentes ficou bem mais fácil nos últimos anos. Hoje, existem sistemas de locação fáceis de usar, com pagamento via cartão de crédito. Alguns hotéis também oferecem o serviço, em muitos casos já incluído na diária.

Sendo assim, quero, com este passeio pelos banheiros da cidade de Shibuya, partir de uma premissa inusitada para oferecer um modo diferente de olhar para — e de circular pela — megalópole.



Santuário Yoyogi Hachimangu, um dos pontos de parada do passeio (foto: Roberto Maxwell)

Essa rota é, também, um passeio guiado. Aqui na “Carta de Notícias” te ofereço um esboço bem básico, mas muito bem estruturado, para que você possa fazer o trajeto sem guia. Porém, não preciso dizer que na versão guiada vou levar vocês nos lugarezinhos que só locais conhecem e trazer informações mais detalhadas sobre o projeto e sobre a cidade. Além, é claro, de todo o meu charme e personalidade para fazer a diferença na sua viagem. Então, não deixa de me contatar para saber quando tem turma ou para montar o seu grupo. Acessa este link.

No mais, bora! Com vocês, o meu novo passeio, gentilmente batizado de…


Esta tour é uma merda!

Um passeio pela cidade de Shibuya através dos banheiros

premissa: Conhecer a cidade de Shibuya através dos banheiros do Projeto Tokyo Toiletduração: 6 horasmeio de locomoção: bicicleta (no mapa, há pontos de locação próximos ao local de partida)apps necessários: Google Maps, Ryde Cycle (localização de bicicletas disponíveis/ iOS e Android), Hello Cycling (locação de bicicletas/iOS e Android), Docomo (locação de bicicletas/site geral)

Acesse o mapa da tour completo, incluindo pontos de locação e devolução das bicicletas.

Ponto de partidaParque da Rokugo Dori

Este é um banheiro comum em um pequeno parque no entorno da estação de Hatagaya. A localidade fica no norte do município de Shibuya e é um bairro residencial cortado pelo viaduto da via expressa. Conheça, aqui, um típico banheiro público local.

1ª parada
Parque da Nanago Dori - Sem contato

O primeiro banheiro da viagem é, também, um dos mais recentes. Desenvolvido pelo diretor de criação Sato Kazoo, o espaço hemisférico (foto abaixo) funciona com comando de voz para evitar o contato direto dos usuários com a superfície do banheiro. Dê as caras e diga:

— Hi toilet!



Fala, banheiro! (foto: Roberto Maxwell)


2ª parada
Parque Nishihara Itchome - Lanterna

O andon é uma espécie de abajour feito de papel e é muito utilizado na decoração de casas e de espaços públicos. A luminária foi a inspiração para o arquiteto Sakakura Takenosuke. Os banheiros são unissex e suas paredes são de vidro fosco com estampas de árvores que remetem às pinturas dos fu’suma, as portas de correr de casas e templos. Os detalhes podem ser vistos de perto e de dentro para fora. À noite, o banheiro fica ainda mais bonito, quando iluminado como um andon.



Andon: lanterna como inspiração (foto: Roberto Maxwell)


3ª parada
Santuário Yoyogi Hachimangu - Cogumelos

Fundado na primeira metade do século 13, o santuário é dedicado a Hachiman, o deus da guerra. Não é por acaso. A época é marcada pela ascensão dos samurais e a cidade de Kamakura, não muito distante de Tóquio, era o quartel-general dos militares que comandavam boa parte do país. O pequeno santuário xintoísta é cercado de árvores e os banheiros criados pelo arquiteto Ito Toyo se assemelham a cogumelos na entrada do espaço sagrado.



Natureza como inspiração (foto: Roberto Maxwell)


4ª parada
Mini-parque Yoyogi Fukamachi - Transparente

Projeto do japonês Ban Shigeru — vencedor do Pritzker, o Oscar da arquitetura, em 2014 —, este é o banheiro que ficou famoso mundo afora. Existem duas versões dele. A segunda fica no Parque Haru-no-Ogawa, não muito distante daqui. No entorno do Mini-parque Yoyogi Fukamachi fica um dos bairros mais bacanas de Tóquio, Yoyogi Uehara, com restaurantes e cafés diversos, boa parte deles fora dos principais guias de viagem. Daqui, siga para o vizinho Parque Yoyogi.

5ª parada
Parque Yoyogi

Um dos maiores espaços verdes de Tóquio, este parque foi, por duas vezes, usado como instalação militar. Até antes da Segunda Guerra Mundial era uma base aérea. Depois, se tornou uma vila militar norte-americana, o Washington Heights, onde residiam soldados e suas famílias. Com a retirada dos Estados Unidos, o espaço foi utilizado como vila dos atletas nos Jogos Olímpicos de 1964. Uma das casas da época foi preservada e pode ser vista por fora. Não deixe de visitá-la porque ela vai ser referência em outro ponto da visita.

Partindo daqui para o próximo local, você vai passar por alguns locais que podem ser interessantes: o Santuário Meiji (um dos mais belos de Tóquio) e a Rua Takeshita, meca da moda para os adolescentes toquiotas.

6ª parada
Jingumae - A casa

Nigo é um dos mais conhecidos estilistas contemporâneos do Japão. O agora diretor criativo da Kenzo foi criado em Harajuku, um dos principais polos fashion da capital japonesa. No site de apresentação do Tokyo Toilet, ele conta que tem visto o bairro de sua infância desaparecer. Por isso, ele criou um banheiro inspirado nas casas do antigo Washington Heights, que servia de residência para os soldados americanos na época da ocupação. Não muito distante do banheiro fica o Curry Up, um restaurante de karê — a versão japonesa do curry indiano — aberto pelo próprio Nigo, a partir de suas memórias do bairro. O estilista conta que havia um restaurante de karê que ele frequentava muito na região. Quem sabe aqui é uma boa parada para o almoço?

7ª parada
Parque Jingu-dori - Contra a chuva

Amayadori é o nome deste banheiro e significa “proteger-se da chuva”. A ideia do arquiteto Ando Tadao foi criar, neste pequeno parque arborizado com cerejeiras, um espaço seguro tanto para os usuários do banheiro quanto para os transeuntes. A construção tem um formato circular, com um teto protuberante e um engawa, um espaço que pode ser percebido tanto como externo quanto interno e é muito comum nas construções tradicionais japonesas. Nas proximidades, você pode explorar a Cat Street, um dos corredores de moda da região.



Proteção contra a chuva (foto: Roberto Maxwell)


8ª parada
Parque Nabeshima Shoto - Madeira

Neste parque bem local, o arquiteto Kuma Kengo — o mesmo que projetou a Japan House SP — retoma o uso da madeira para falar de natureza e paisagem urbana. O espaço é quase que um complexo com diferentes banheiros, incluindo um para ser usado por quem apenas precisa trocar de roupas. Próximo a esse banheiro fica uma das áreas mais movimentadas de Shibuya, que funciona como local de trabalho e lazer para muita gente. Assim, o sanitário propicia o espaço necessário para a metamorfose da persona que se dedica de dia ao trabalho para aquela que brilha na noite.

O caminho entre este banheiro e o próximo é longo e passa pela estação de Shibuya. Este entorno é um dos pontos mais agitados de Tóquio. Além de todo o comércio, aqui fica o Cruzamento de Shibuya, um dos mais movimentados do planeta. Aproveite para explorar um pouco a região, mas cuidado com o local onde você estaciona a bicicleta.

9ª parada
Higashi Sanchome - Inclusão

A designer Tamura Nao tinha um pequeno lote em forma de triângulo para construir o seu banheiro. Por isso, teve que ser criativa. Ela buscou inspiração no origata, as dobraduras de presentes para aproveitar bem o espaço. Além disso, escolheu a cor vermelha para que o banheiro seja facilmente localizado por quem vem com pressa. Tamura vive em Nova Iorque, onde convive com uma comunidade LGBTQ+. Pensando em pessoas trans, ela criou banheiros privativos. “Se uma pessoa se identifica como mulher, deve usar o banheiro feminino sem medo de criar constrangimentos ou de ser constrangida”, disse ela no site de promoção do projeto.

10ª parada
Estação de Ebisu, Saída Oeste - Branco

O diretor de criação Sato Kashiwa pensou numa cor que diz tudo o que se espera de um banheiro. O espaço em formato cúbico tem as paredes superficiais suspensas do solo, de modo que se possa ver se há alguém entrando ou saindo do sanitário. A iluminação tem destaca o banheiro que fica bem em frente a uma das saídas mais movimentadas da estação de Ebisu.


Segurança para a entrada do banheiro (foto: Roberto Maxwell)


11ª parada
Parque Ebisu Nishi - O polvo e a lula

Conhecido pelos locais como o “Parque do Polvo”, este espaço arborizado a poucos metros da estação de Ebisu é frequentado majoritariamente por crianças. Isso porque o local tem uma série de brinquedos, dentre eles um escorregador em formato de polvo. Por isso, o veterano arquiteto Maki Fumihiko chamou a sua criação de “Banheiro da Lula”. O espaço é formado por diferentes seções, cada uma delas correspondendo a um sanitário. A conexão entre eles é o teto que parece uma folha de papel dobrada.



Complexo do Parque do Polvo (foto: Roberto Maxwell)


12ª parada
Parque Ebisu - Pré-história

Longas paredes de concreto armado formam uma espécie de labirinto que leva aos banheiros criados pelo designer de interiores Katayama Masamichi. A inspiração dele vem dos kawaya, banheiros pré-históricos encontrados no período entre 6 e 10 mil anos antes de Cristo e que eram basicamente paredes que protegiam os usuários que faziam suas necessidades na beira dos rios. Os elegantes kawaya modernos são divididos em três grupos: masculino, feminino e todos.



Inspiração pré-histórica (foto: Roberto Maxwell)


13ª parada
Parque Hiroo Higashi Ebisu - Monumento

A última parada da tour fica em Hiro-o, um elegante bairro adotado por muitos expatriados. Aqui, o diretor de arte Ushiro Tomohito criou algo que ele define como “peça de arte pública que possa provocar constantes questionamentos ao apreciador”. Numa das paredes, Ushiro colocou um painel de luzes que podem se organizar em 7,9 bilhões de maneiras diferentes. O número não é aleatório, ele representa a quantidade de habitantes do planeta.



Monumento de luzes (foto: Roberto Maxwell)




Apêndice - Regras para trafegar de bicicleta no Japão

O trânsito no Japão costuma ser bem mais tranquilo que o das cidades brasileiras. Ainda assim, é preciso ter todo o cuidado ao trafegar de bicicletas. Boa parte dessa tour passa por bairros mais tranquilos. Neles, o principal cuidado é com idosos e crianças, pedestres ou ciclistas. Algumas partes da tour cruzam avenidas bem movimentadas. Aqui, o cuidado é com os carros.

Bicicletas são consideradas veículos leves. Embora o sistema de multas para ciclistas que desrespeitam regras de trânsito seja raramente aplicado, é sempre bom conhecer as regras e pedalar de acordo. Até porque se um acidente ocorrer e for preciso acionar o seguro ou a polícia, fica bem quem tem razão. As regras abaixo são uma adaptação do material publicado no site Japan Travel.



Uso de bicicletas pode tornar um passeio por Tóquio ainda mais especial (imagem: Photo AC)


Onde pedalar?

Em geral, o ideal é pedalar nas ruas, mesmo onde tiver calçada. Em geral, não é totalmente proibido trafegar de bicicleta em calçadas. Crianças até 13 anos e idosos acima de 70 podem. A velocidade máxima permitida nelas é de 10km/h. No dia-a-dia, no entanto, estão são algumas das regras mais desrespeitadas. Por isso, evite. É em cima das calçadas que ocorrem mais acidentes. E caso precise usá-las, a prioridade é do pedestre sempre, mesmo quando há espaços designados para bicicletas.

Pedale sempre na direção do tráfego. Aqui, a multa é de cerca de 200 dólares e é possível passar 30 dias no xilindró caso o ciclista seja pego na contramão. Mas a regra raramente é aplicada, infelizmente. Ah, em caso de mão única, mantenha-se à esquerda.

Infelizmente, o Japão ainda não tem uma cultura de transportar bicicletas nos trens. Então, não há espaço para elas no transporte ferroviário. Se a sua magrela for dobrável, você pode levá-la no trem ou no metrô, desde que bem embalada. Porém, espera-se que, nos horários de pico, as pessoas evitem viajar com embalagens grandes já que os trens estão sempre lotados.



Ciclovias e ciclofaixas são presentes em algumas cidades japonesas (imagem: Photo AC)


O que usar? O que não usar?

O uso de capacete é obrigatório somente para ciclistas até 13 anos. No entanto, caso você vá circular por avenidas muito movimentadas, é um acessório a mais de segurança.

Usar aparelhos eletrônicos enquanto pedala é terminantemente proibido, inclusive fones de ouvido. Como você vai precisar do celular para se guiar, é bom ter um suporte para telefones no guidão. Eles não são caros no Japão e facilitam a navegação. Caso precise consultar a rota, pare a bicicleta.

Em dias de chuva, é tentador sair por aí com um guarda-chuvas na mão, né? No entanto, isso também é proibido. Use uma capa de chuva.

Faróis e buzinas são de uso obrigatório no Japão. Então, toda bicicleta é equipada com eles. Confira se tudo está funcionando bem antes de retirar a bicicleta. Ao anoitecer, lembre-se de ligar a lâmpada, caso ela não seja automática. Não exagere no uso da buzina, especialmente se você precisar circular na calçada. Lembre-se que você nem deveria estar lá e que a prioridade é sempre do pedestre.

Outras regras

Não beba e pedale. Pode parecer uma coisa óbvia, mas não é raro ver gente que tomou um ou outro copo montada em bicicletas. Quem é pego bêbado no pedal pode passar a noite atrás das grades. Porém, a coisa fica bem pior em caso de acidentes: a pessoa pode pegar até cinco anos de cadeia e multa de cerca de mil dólares.

É proibido pedalar lado a lado, a menos que existam sinais que permitam a prática. Também não é permitido levar gente na garupa, com exceção de crianças com até 6 anos de idade.

Mais dicas sanitárias

Mais sobre banheiros e outras necessidades fisiológicas no Japão? Segue.

Um show de vasos sanitários

Limpeza, secagem, bidê, sonorização ambiente: quem visita o Japão sempre se surpreende com as múltiplas funcionalidades dos vasos sanitários do país. Não foram poucas as vezes que me perguntaram se era possível comprar os chamados washlets, assentos ultra tecnológicos, e levá-los para o Brasil. Até hoje não sei a resposta exata à pergunta. No entanto, eu costumo recomendar uma visita ao Toto, Daiken, YKK AP Tokyo Collaboration Showroom, que tem uma das mais completas exposições de vasos sanitários e outros itens de banheiro e cozinha na capital japonesa. Tem gente que vai e se diverte.

Tokyo-to Shibuya-ku Yoyogi, 2−1−5 JR Minami Shinjuku Building 7º e 8º andares [mapa]

Washlet portátil

Quem não consegue levar o assento completo pode, pelo menos, ter uma espécie de ducha higiênica portátil made in Japan. Chamado de keitai washlet, o produto me conquistou depois de algumas viagens ao exterior nas quais eu fui ficando cada vez mais avesso a ir ao banheiro fora dos hotéis por não poder me limpar com água. O produto não é barato, mas para quem quer ficar tranquilo depois do número 2, é recomendado.





O produto é vendido em diversas lojas online, dentre elas a Amazon.

Meditação com higiene

Para quem curte história, visitar casas antigas é sempre uma boa opção. É possível ver que em muitas delas o sanitário era instalado em um buraco no chão, como uma latrina. Um dos mais antigos banheiros nesse formato fica no Tofuku-ji, um dos templos budistas mais subestimados de Kyoto. Chamadas de to’su, as antigas latrinas ficam perto de um antigo salão de meditação usado pelos monges do templo.

Kyoto-fu Kyoto-shi Higashiyama-ku Honmachi 15-778 [mapa]

Museu de Ciências da Água de Tóquio

Ideal para visitar com crianças, o espaço administrado pelo Departamento de Águas da Província Metropolitana de Tóquio é dedicado a ensinar como a água chega às nossas casas. Apesar das informações serem majoritariamente em japonês, o espaço conta com muita interação e experimentos. Além disso, um passeio guiado mostra como funciona um centro de distribuição de água. Um deles, aliás, fica bem abaixo do próprio museu. Fechado no momento, o museu volta a funcionar em abril de 2023.

Tokyo-to Koto-ku Ariake 3-1-8 [mapa]

Canal Subterrâneo de Despejo de Águas Pluviais

O Japão é um país muito suscetível a desastres naturais envolvendo água. Tsunamis e tufões de grandes proporções podem inundar cidades do porte de Tóquio. Para evitar que isso ocorra, o país construiu um dos maiores sistemas de escoamento de águas do planeta, localizado 50 metros abaixo da superfície. Um dos principais salões fica na cidade de Kasukabe, na periferia de Tóquio, e é aberto à visitação pública. Você vai poder caminhar numa enorme construção subterrânea que parece o cenário de um filme e entender como o sistema evita o alagamento da região, que é cortada por rios de grande porte. A entrada é franca e recomenda-se a reserva.

Saitama-ken Kasukabe-shi Kamikanasaki 720 [mapa]site para reserva


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