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Beleza feita à mão

Pequena cidade da província de Tochigi é grande na produção de cerâmica e saquê


Objetos do dia a dia são o foco principal da cerâmica de Mashiko (foto: Roberto Maxwell)

Uma estátua gigante chama a atenção dos visitantes que chegam à principal área de comércio de Mashiko, cidade da província de Tochigi, ao norte de Tóquio. Trata-se do tanuki, o cão-guaxinim japonês, um dos muitos animais com que habitam as florestas e o folclore japonês. Na mitologia, o tanuki é um cara divertido, esperto pero no mucho, que adora um saquê e está sempre com um boletinho nas mãos.


Com 10 metros de altura, a estátua gigante do tanuki na entrada da Cooperativa de Artesãos de Mashikoyaki deve ser um aviso. Porque é difícil não sair com uma conta alta para pagar desta ou de qualquer outra loja da área. Mashikoyaki é o estilo de cerâmica, produzido localmente. São peças de cair o queixo que explicam porque a cidade de apenas 20 mil atrai visitantes de todo o país.


Coisa nova

Diferente de outras regiões famosas como Arita, a história de Mashiko com a cerâmica é relativamente recente. Foi nos anos 1850 que o barro vermelho-acastanhado da cidade começou a ser conhecido no Japão e usado para a produção de objetos do dia-a-dia como jarras e copos.


Na década de 1920, Mashiko entrou no mapa das olarias do Japão. Isso graças ao trabalho de um homem chamado Shoji Hamada. Nascido em Kawasaki, uma cidade nos subúrbios de Tóquio, Hamada passou por Kyoto e por temporadas na Inglaterra e Okinawa, antes de se estabelecer em Mashiko. Na cidade, ele criou seu estúdio e passou a produzir suas peças usando apenas matéria-prima local.


O trabalho de Hamada na cerâmica foi se tornando tão importante que o governo japonês concedeu a ele o título de Tesouro Nacional Vivo, em 1955. Foi a primeira vez que um artesão recebeu a honraria no país. A história e a produção dele pode ser vista no Museu Memorial de Referência Shoji Hamada em Mashiko. O espaço foi fundado pelo próprio Hamada em 1977, ano anterior à sua morte, na casa em que vivia e trabalhava. Além das peças do próprio artesão e seu forno, o museu traz ainda exposições sazonais e eventos.


Tanuki: figurinha carismática na cidade da cerâmica (foto: Roberto Maxwell)

Outro espaço para conhecer o trabalho de Hamada e de outros artesãos e artistas locais é o Museu de Arte em Cerâmica de Mashiko. O complexo abriga galerias, estúdios, residências artísticas e um forno. Além disso, ficam no espaço as ruínas do antigo castelo que comandava a região, hoje transformado num museu de esculturas a céu aberto.


As lojas e ateliês dos artistas na cidade são uma atração a parte. A Mashiko Hon-dori é a artéria principal, por onde passa o ônibus que vem de Utsunomiya e de Tóquio e tem como ponto final a estação de trem. Nela ficam as principais lojas de cerâmica. Uma das mais charmosas é a Toko que fica numa antiga construção de pedra, usada como depósito de arroz até os anos 1970. O espaço representa um grupo grande de artesãos locais e comercializa suas peças. A Toko também funciona como galeria, sediando exposições temporárias.


Peças elegantes são o foco da Toko (foto: Roberto Maxwell)

Comida no prato…

Diversos restaurantes e cafés ficam no entorno das lojas da Mashiko Hon-dori e oferecem diversas opções gastronômicas. No entanto, um dos restaurantes mais recomendados da cidade fica fora da rota habitual. É o Mashiko Mori no Restaurant que, como o nome em japonês aponta, fica no meio da mata, a cerca de dois quilômetros de distância da Toko. Apesar da distância, o local é facilmente acessível de bicicleta ou mesmo a pé.


Na casa de três andares adaptada, a referência dos pratos é italiana mas os preparos são muito japoneses. A entrada, que é sazonal, vem com quatro preparos: uma sopa fria de batata, um peixe marinado em meio ácido no estilo suzakana, um purê de abóbora e um salada de repolho tipo coleslaw. O uso dos produtos da estação lembra o hassun, um dos momentos do banquete kaiseki que valoriza os ingredientes da estação.


Butadon servido na louça de Mashiko no Mori no Restaurant (foto: Roberto Maxwell)

Dentre os pratos principais, o porco assado vêm à mesa servido no formato don: numa tigela e sobre o arroz. Já o espadarte ganha um empanado tão crocante e seco. Neste último caso, os acompanhamentos são legumes grelhados e pães feitos na casa. Tudo saboroso, com um tempero que agrega ao gosto natural dos ingredientes.


Talvez nem precise dizer, mas até as bebidas do drink bar — auto serviço em máquinas — são consumidas em cerâmicas do local. Aliás, o restaurante faz parte de um complexo que inclui um café, uma galeria e um ateliê para quem quer colocar a mão a argila e produzir a própria cerâmica. Vale uma olhada.


Saquê premiado

Do outro lado da cidade, fica a Tonoike, uma fábrica de saquê que já figura entre os principais atrativos para visitantes em Mashiko. O sucesso se deve, em grande parte, ao carisma do proprietário da empresa Shigeki Tonoike. Acumulando o cargo de presidente da Associação de Turismo da cidade, não é raro vê-lo recepcionando os visitantes na pequena estação de Mashiko.


Tonoike vem de uma família de mercadores do oeste do Japão que se fixou na província de Tochigi no meado do século 19. Em 1937, o avô de Shigeki fundou a fábrica de saquê. O fundador era obcecado pela limpeza, como conta o atual administrador. “Depois que o material usado na produção era lavado, meu avô mandava os funcionários beber a água da última lavagem”, conta. “Quando eles se recusavam, ele dizia para o pessoal lavar de novo. Se água não está limpa a ponto de beber é porque o material não foi lavado direito”, conta ele aos risos.


Saquê de Mashiko, premiado em competição mundial na França (foto: Roberto Maxwell)

A atitude meio bronca do avô se reflete nos rótulos mais populares da casa. Vencedor do Kura Master — o principal concurso de saquê realizado fora do Japão —, o Sanran Junmai Daiginjo Yumenosasara é um exemplo disso. Junmai daiginjo são saquês puro arroz produzidos com uma baixa taxa de aproveitamento do cereal. Isso quer dizer que são bebidas leves, com aromas e notas frutadas. Embora também tenha esse perfil, o Sanran Junmai Daiginjo Yumenosasara traz um impacto de entrada mais forte na boca e é mais persistente. Em outras palavras, um saquê para paladares mais fortes.


A fábrica faz visitas guiadas e degustação comparativa dos rótulos (paga) com acompanhamentos deliciosos produzidos por parceiros locais. O tofu defumado, por exemplo, é uma delícia. Embora haja restrições de visitação ao espaço de produção em si, a Tonoike tem um pequeno museu, onde se pode conhecer a história da companhia e entender melhor a produção do saquê. Um serviço de tradução em inglês das informações com um tablet está à disposição para quem não fala japonês. Além disso, a fábrica costuma abrir uma das casas usadas antigamente para recepções, um espaço em que a tradição japonesa se encontra com a decoração europeia.

Tonoike Shigeki e o avô, duas gerações de produção do saquê (foto: Roberto Maxwell)

O aconchegante bar também é outro destaque. Em uma das paredes, estão orgulhosamente exibidas copas de cerâmica locais que podem ser usadas na degustação dos saquês, um verdadeiro encontro de tradições que tornam Mashiko um peculiar destino fora da rota turística no Japão.


Roberto Maxwell viajou a convite da Nearby Tokyo e da Sake Voyage, que organiza viagens guiadas em inglês e outras línguas estrangeiras para Mashiko. Confira no link.

 

SERVIÇO

Como chegar?

Embarque na Linha Tohoku do trem-bala Shinkansen até Utsunomiya, de onde se faz a transferência para o ônibus local para Mashiko, na plataforma 14 da rodoviária da saída oeste.


Cooperativa de Artesãos de Mashikoyaki

Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Mashiko 706-2 [mapa]

10 às 16 horas www.mashikoyakikyouhan.jp (em japonês)


Museu Memorial de Referência Shoji Hamada em Mashiko Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Mashiko 3388 [mapa]

9:30 às 17 horas (entrada até às 16:30, fechado às segundas)

¥1000 (adultos, com desconto para estudantes e pessoas com deficiência)

mashiko-sankokan.net (em japonês)


Museu de Arte em Cerâmica de Mashiko

Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Mashiko 3021 [mapa]

9:30 às 17 horas (entrada até às 16:30, fechado às segundas)

mashiko-museum.jp (em inglês)


Toko

Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Jonaizaka 2 [mapa]

10 às 18 horas (fecha às 17 horas no inverno)

mashiko.com (em japonês)


Mashiko Mori no Restaurant

Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Mashiko 4037 [mapa]

11 às 16 horas (último pedido até às 15:20)

tougei.net/mori (em japonês)


Tonoike Shuzo

Tochigi-ken Haga-gun Mashiko-machi Hanawa 333-1 [mapa]

9 às 16 horas (visitas individuais devem ser reservadas com, pelo menos, dois dias de antecedência)

¥1000 (com set de degustação de três saquês)

tonoike.jp (em japonês)

www.sanran-sake.com (em inglês)



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