Realizado no último dia 26, em discreta cerimônia, o casamento da sobrinha do imperador Naruhito fala muito mais sobre a sociedade japonesa do que a gente imagina
Sem pompa nem circustância, mas com imenso potencial histórico, a agora ex-princesa Mako sacramentou seu casamento, adiado desde 2018. De heroína jovem à capa de jornais e revistas maliciosos, Mako Komuro passou pelo périplo do qual não escapam nem as mulheres da realeza no Japão: ver sua vida descortinada por outros, sem que sua opinião possa se fazer ouvida. Após relatos de depressão e estresse pós-traumático, a sobrinha do Imperador Naruhito conseguiu seguir adiante com seus planos e, mesmo sob críticas, se casou com o ex-colega de faculdade Kei Komuro. Saiba como foi o imbróglio.
Quem é Mako?
Mako Komuro, anteriormente conhecida como Mako de Akishino, é a filha mais velha do príncipe Fumihito e da princesa Kiko. Seu pai é irmão do imperador Naruhito e o primeiro na linha de sucessão do trono japonês. Por isso, ela detinha o título de Sua Alteza Imperial, a Princesa Mako. Com 30 de idade, Mako é graduada e mestre em Belas Artes, com estudos na Irlanda e no Reino Unido.
Uma princesa sem trono
Mako, como as outras mulheres da Família Imperial, não estava na linha sucessória do Trono do Crisântemo. As leis japonesas em vigor foram criadas para que somente os homens da família pudessem se tornar imperadores. Ainda assim, a ex-princesa era um dos membros mais ativos da realeza japonesa, representando o país e seu povo em eventos nacionais e internacionais. Em 2018, ela esteve no Brasil celebrando os 110 anos da imigração japonesa.
A polêmica do casamento
Kei Komuro é o marido da ex-princesa. O casal se conheceu na faculdade. Em 2017, Mako e Kei anunciaram a intenção de se casar no ano seguinte. No entanto, a mídia noticiou que a mãe de Kei tinha uma dívida com um ex-namorado, apontando o que poderia ser uma situação embaraçosa para a Família Imperial. O casamento acabou sendo suspenso e Kei embarcou para os Estados Unidos, onde trabalha num escritório de advocacia. O namoro, no entanto, continuou mesmo à distância.
A perda do status de princesa
Segundo as leis japonesas, as mulheres da Casa Imperial que se casam com plebeus perdem o título real. Antigamente, a Família Imperial era muito mais extensa, com vários ramos. Em outras palavras, havia mais possibilidades de renovação geracional na corte. Com o casamento das princesas mais jovens, e caso não haja nenhuma mudança, a Casa Imperial poderá perder quase 1/3 de seus membros nos próximos anos. A atual geração da família só tem um representante do sexo masculino, o Príncipe Hisahito, irmão de Mako. Ele é o segundo na linha sucessória do trono japonês.
Um microcosmo do Japão
O envelhecimento, o encolhimento e as questões de gênero são alguns dos principais desafios da Família Imperial Japonesa no século 21. Discussões sobre mudanças nas regras de sucessão e de inclusão já foram iniciadas, mas sempre encontram resistência, em especial dos políticos e burocratas mais conservadores. As questões da Família Imperial refletem o momento em que o país como um todo vive, com o envelhecimento da população, a baixa natalidade e a necessidade urgente de ressignificar a posição social da mulher.
Um país capaz de mudar?
Um olhar menos atento poderia dizer que não. No entanto, eventos como a abdicação do agora imperador-emérito Akihito, em 2019, apontam para o contrário. A despeito de todas as críticas, a princesa fez prevalecer seus planos e se casou numa cerimônia privada e discreta. Ela renunciou não somente à condição de realeza mas, também, o dote a que tinha direito. Além disso, o casal vai se estabelecer nos Estados Unidos. Tudo isso é indício de que nem tudo segue como antes na Terra do Sol Nascente.
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Excelente análise!