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Me apresenta uma Kyoto que eu não conheço

newsletter - Carta de Notícias por Roberto Maxwell

O melhor de treze dias de imersão na capital milenar do Japão

Roberto Maxwell

21 de mai. de 2022

Uma playlist praticamente contemporânea capturada em bares, restaurantes e outros lugares que visitei durante a viagem a Kyoto que deu origem a esta “carta de notícias”. Aperta o play ou acesse pelo link.



Morei em duas “cidades” ao longo dos meus 17 anos de vida no Japão: Shizuoka e, depois, Tóquio. Depois dessas, Kyoto é a cidade que eu melhor conheço no país. Já cruzei os becos apertados da antiga capital do Japão inúmeras vezes, a trabalho e a lazer. Perdi a conta de quantas vezes gravei programas, guiei turistas ou, simplesmente, visitei a cidade nessas quase duas décadas. Ainda assim, ao começar este texto, percebi que nunca tinha publicado nada sobre Kyoto.


Já fiz uma capa de revista sobre a província de Kyoto e a ideia central do texto era justamente dar dicas do que fazer fora da capital. São mais de 15 anos de atividade profissional como jornalista no Japão e não escrevi nem uma mísera nota sobre Kyoto. Para quem trabalha com turismo, isso é especialmente aviltante.


Por isso, nesta edição da “carta do notícias” quero reparar o erro. Mas não queria fazer de qualquer maneira, nem falar de uma Kyoto óbvia ou batida. Por isso, consultei amigos e joguei uma caixinha no Instagram pedindo aos seguidores que me indicassem lugares na Antiga Capital. Escolhi somente aqueles que eu não conhecia e tirei 13 dias para viver uma experiência imersiva em Kyoto. É isso que eu trago para você nesta terceira edição da newsletter da Tokyo Aijo. Me acompanha nessa?


Flores e diversões

Faltava pouco para as cinco da tarde quando desembarquei na estação de Umekoji-Kyotonishi, da linha Sagano, que conecta a estação central da cidade até o norte da província, passando por Arashiyama, um dos bairros mais turísticos de Kyoto. A novíssima estação está, como diriam os japoneses, pika-pika. A palavra é uma das muitas onomatopeias que a língua local usa para adjetivar as coisas. Pika-pika é o som de algo que está brilhando ou, como neste caso, tinindo de novo.


Quem desce em Umekoji-Kyotonishi dá de cara com o charmoso Parque Umekoji, onde se pode caminhar tranquilamente entre as árvores, sentar-se à beira do lago, ver os trens passarem bem de pertinho ou, ainda, acessar o Aquário e o Museu Ferroviário. Todos tão novos quanto a estação.


Mas não é preciso caminhar muito para perceber que a estação destoa fortemente do entorno. Ela serve a uma área da cidade que é conhecida como Shimabara e é famosa por ser um dos históricos kagai, distrito de gueixas, de Kyoto.

(Kagai, aliás, vale um parênteses. A palavra é escrita com os caracteres para flor ‘花’ e cidade ou distrito ‘街’, com um sentido literal de ‘distrito das flores’. Fora de Kyoto, a palavra é lida como “hanamachi”.)


Maiko circulando pela ruela que forma o distrito de Pontocho (foto: Roberto Maxwell)

Shimabara tem uma história interessante como kagai porque, inicialmente, o local era um yukaku (遊廓, ‘distrito de diversões’), outro eufemismo que, desta vez, indicava as zonas de prostituição. Ao longo da primeira metade do século 17, três regiões do Japão foram designadas para função: Yoshiwara (Tóquio), Shinmachi (Osaka) e a citada Shimabara. Nesses locais, as yujo (prostitutas) e oiran (cortesãs) podiam trabalhar livremente. A designação de áreas para a atividade do sexo na época não tinha nada a ver com moralismo. Era apenas era fruto do ordenamento urbano implementado pelo xogunato nas três maiores metrópoles do país.


No meado do século seguinte, as gueixas — que também trabalhavam nos yukaku —, começaram a ganhar destaque, oferecendo um tipo de entretenimento menos sacana, mas ainda assim envolvendo muita sensualidade. Gueixas, como via de regra, não vendem sexo. Mas a maquiagem, as vestimentas e as performances são feitas sob medida para despertar as fantasias masculinas. Com isso, elas foram se tornando mais populares, decretando o fim da era das oiran.

Shimabara acompanhou a onda e muitas geiko (lê-se ‘guei-kô’) se estabeleceram no local. Reparem nessa palavra nova, geiko. Em Kyoto, é assim que são chamadas as gueixas. Ambas as palavras querem dizer ‘artista’. Mas em geiko há o caractere para ‘ko’ (子/criança) que também faz uma alusão ao feminino, reforçando o caráter de gênero da profissão. Só para completar o vocabulário, as geiko aprendizes são chamadas de ‘maiko’, tanto em Kyoto quanto em outras partes do Japão.


Foi com a ascensão das geiko que os distritos de prostituição ganharam um nome mais leve, kagai, aquele das flores. Shimabara passou a ser um dos kagai de Kyoto, junto com os cinco outros locais que até hoje continuam na atividade: Gion Kobu, Gion Higashi, Miyagawacho, Kamishichiken e Pontocho.


De todos os distritos, Shimabara era o mais isolado e isso foi fatal para a atividade das gueixas no local. A decadência começou com um incêndio, em 1851. Muitos dos estabelecimentos atingidos se mudaram, inicialmente de forma provisória, para uma nova área no distrito de Gion. Metade deles não voltou. Quando Kyoto perdeu o status de capital, os samurais e funcionários públicos que eram a maior parte da clientela dos estabelecimentos também foram embora e Shimabara foi definhando por décadas. Em 1956, a prostituição se tornou ilegal no Japão, obrigando boa parte dos estabelecimentos da área a encerrar suas atividades. Nos final dos anos 1970, não havia também as geiko e Shimabara deixou de ser um kagai.



Hoje em dia, pouco resta da movimentação da época. Muitos das antigas casas de madeira, chamadas em japonês de machiya, foram se tornando residências. Alguns imóveis ficaram anos fechados. Acontece que, apesar de estar fora do burburinho, Shimabara é muito bem localizado. A área fica perto da estação de Kyoto e de avenidas muito bem servidas de transporte público e conectadas às partes mais agitadas da cidade. Além disso, o bairro ainda conta com muito da atmosfera de antigamente, com as fachadas das casinhas relativamente bem preservadas e até um portal de entrada que data de 1867.


O clima do bairro e as possibilidades atraíram o japonês Murakami Takuji e o alemão Onur Camurcu para Shimabara. Eles encontraram um machiya de dois andares que estava há 10 anos e fechado e, após um acordo com o proprietário, alugaram a casa e fizeram uma total resignificação do espaço. Em 2016, os meninos inauguraram no local o Hachi, uma guest house.


Estilistas e designers, Takuji e Onur também tocam uma marca de roupas que propõe uma ideia de circularidade no design. Eles criam peças novas reciclando e reaproveitando materiais matérias-primas e as entregam de forma que elas possam ser reaproveitadas em outros ciclos.


Assim, foi natural que eles também fizessem o mesmo com a casa que alugaram. Em 2020, o casal decidiu se mudar para a guest house e usar o espaço também como loja da marca. Assim, nasceu o Offsait Studio que é um show room, um ateliê, uma hospedaria e o local onde Takuji e Onur criam o Mitch, um golden retriever simpático e gigante de apenas 8 meses de idade.


Atualização: O Offsait Studio está temporariamente fechado.


Takuji e Onur, comigo e a Meg refletidos na vidraria da loja (foto: Roberto Maxwell)

Eles me receberam de braços abertos para uma curta estadia na casa, a convite da amiga e colega de profissão Meg Yamagute. Ela, que decidiu viver nômade pelo Japão, está em sua segunda temporada em Kyoto.


Como hospedagem, o Offsait Studio oferece dois pequenos quartos. Um fica no térreo e tem piso de tatami e futon, o tradicional colchonete japonês. Já o do pavimento superior é todo de madeira e tem um confortável beliche, que eu dividi com a Meg por alguns dias. Existem toaletes de uso coletivo nos dois andares. A charmosíssima e bem equipada cozinha comunal fica na parte de cima. Já os banhos, na de baixo, numa área reservada ao lado do espaço da loja. Toda a casa é muito bem decorada. A iluminação intervém o mínimo possível no projeto original da residência que faz um excelente uso da luz natural. É um espaço aconchegante, divertido e criativo.


Quem curte moda também vai querer conhecer as peças dos caras, todas unissex e de tamanho único, feitas para acolher todos os tipos de corpos. Na compra da peça, você pede os ajustes que são feitos em alguns dias. Outra coisa legal são as roupas feitas com couro de cacto, uma alternativa sustentável e de qualidade para esse tipo de tecido. A Offsait Studio é uma marca original, local, inteligente e inclusiva que merece a sua atenção.


Espaço da loja na Offsait Studio (foto: Roberto Maxwell)

Hospedando-se ou não em Shimabara, o bairro vale a visita se você quiser conhecer uma Kyoto fora do trajeto dos turistas convencionais. O ambiente bairro é uma delícia para quem curte passear. Duas importantes construções da época das geiko ainda estão de pé. O Wachigaya é a única casa de chá da época que segue em operação, mantendo viva a tradição das tayu, cortesãs que não faziam atividades sexuais. Uma pena que a entrada é somente para convidados, mas o prédio é lindo por fora.


Mais democrático, o Sumiya era uma antiga casa de prazeres que foi se reinventando com o tempo. A construção é considerada o maior machiya de Kyoto e se tornou um restaurante antes de encerrar suas atividades em 1985, após mais de 300 anos em serviço. Quatro anos depois do fechamento, uma associação foi fundada para preservar o prédio e sua história e o Sumiya foi reaberto como uma espécie de museu. Exposições são programadas ao longo do ano, com os objetos preservados da casa.


Aos poucos, pequenos restaurantes e cafés estão se estabelecendo no bairro. Seguindo a dica dos meninos, fiz uma caminhadinha até o Ichiban, uma casa especializada em tonkatsu, cortes de porco empanados e fritos por imersão. O Ichiban fica num machiya de dois pavimentos e é tocado pela mesma família desde a fundação, há 60 anos. Inicialmente um restaurante de comida francesa, a casa foi inagurada numa das áreas mais badaladas de Kyoto. O negócio foi dando certo por uns anos e uma segunda unidade, no atual endereço, foi aberta.


No entanto, a matriz no bairro chiquetoso acabou fechando, sobrando apenas a filial de bairro, que se especializou no tonkatsu, um prato bem mais popular do que o menu que era servido inicialmente. Em seu site, o Ichiban conta com orgulho que o restaurante segue aberto, mesmo num ponto não tão bem localizado, porque os “locais nunca deixam de comer” na casa e porque “gente de longe também não para de vir”. Não é balela de storytelling. O Ichiban realmente oferece comida boa, feita de forma honesta e com preços acessíveis.


Tonkatsu do Ichiban: simples e muito saboroso (foto: Roberto Maxwell)

Aliás, tive até que me controlar para não comer lá uma terceira vez, depois de duas noites seguidas. O tonkatsu é muito bem preparado, com uma carne deliciosa e suculenta e o empanado crocante. O molho demi-glace, essencial no prato, é balanceado e casa muito bem com o empanado. Sugiro pedir o Meidai Tonkatsu, um corte especial mais saboroso que a opção básica. A carta de bebidas inclui cerveja, coquetéis simples como o highball, saquê e shochu. É certeza de uma refeição que vai agradar ao coração e ao bolso, num ambiente acolhedor.


Caminhos cruzados

Nunca ter publicado nada sobre a cidade Kyoto não foi algo proposital. Mas seria leviano dizer, também, que foi um acaso. Minhas primeiras experiências em Kyoto foram bem ruins. A cidade foi o único lugar do Japão em que alguém criticou o meu uso da língua local. “Você fala japonês bem, pena que com o sotaque de Tóquio”, me disse uma senhora numa franqueza impensável.


Em Kyoto, mais de uma vez vivenciei situações em que não me senti bem-vindo. Histórias semelhantes, ouvidas de amigos e colegas, são ainda mais numerosas. E não é algo direcionado exclusivamente a estrangeiros. Mesmo japoneses de outras regiões têm dificuldades com os quiotenses da gema. Veja bem, não é que você vá ser mal tratado de forma gratuita num local turístico. É algo mais sutil, que vai se tornando perceptível à medida em que você se entranha nas relações, que você passa a entender a língua e os códigos locais.


Isso seria estranho se eu não fosse um carioca criado numa família nordestina no Rio de Janeiro. Ao perceber isso que essa experiência já me era familiar, fui desvelando inúmeros paralelos entre a Cidade Maravilhosa e a Antiga Capital. Rio e Kyoto foram capitais de seus países, em épocas de fortes ardores monárquicos. A relação com a realeza é especialmente importante porque a monarquia é mais que um sistema de governo: é um regime de adoração. Assim, guardadas as devidas proporções, Rio e Kyoto tiveram tudo o que uma corte poderia proporcionar, inclusive a própria realeza e todos os hábitos (e arroubos) de grandeza imagináveis.


Casinhas geminadas em bairro residencial de Kyoto (foto: Roberto Maxwell)

Quanto mais alto se voa, mais forte é o tombo. As duas cidades sabem disso e sentiram a casa cair de forma abrupta quando deixaram de ser as capitais de seus países. No Japão, o desastre ocorreu em 1868, quando o xogunato Tokugawa entregou as armas e as forças imperiais ocuparam o Castelo de Edo, na atual Tóquio. Às pressas, a corte se moveu para Edo e transformou o antigo quartel-general do xogum no Palácio Imperial, função que a construção cumpre até os dias de hoje. Foi uma decisão tão envergonhada que até hoje não existe um documento oficial de transferência da capital para Tóquio.


A perda do status levou à fuga de agências estatais e de funcionários públicos e revelou um problema sério, comum às duas cidades: a obsolescência da economia. Sem indústrias ou polos econômicos de relevância, tanto a Kyoto quanto ao Rio só sobrou o posto de epicentro cultural e histórico de seus países. Ambas as cidades são polos turísticos importantes. No entanto, como mostrou bem a pandemia, o turismo é uma atividade frágil. E mesmo antes do mundo virar de cabeça para baixo, Kyoto era vítima do próprio sucesso. O overturismo se tornou um problema que foi jogado no colo da população e aumentou ainda mais a resistência de muitos dos locais às pessoas que vêm de fora.


E quando o salto cai, só resta o orgulho, o que explica os arroubos provinciano-bairristas de cariocas e quiotenses. Sendo assim, passei a evitar Kyoto já que estar na cidade era, de certo modo, reviver os incômodos que eu tinha no Rio de Janeiro.


Um novo olhar construído nas ruas

O trabalho com o turismo me obrigou a construir uma narrativa melhor sobre a cidade e, para isso, eu precisava conhecer Kyoto de outra maneira. Fiz isso de um jeito que me era muito familiar no Rio: a pé. E na antiga capital japonesa, a tarefa iria se revelar muito mais fácil.


Se você caminhar em linha reta da estação de Kyoto até a borda norte do antigo Palácio Imperial, vai percorrer uma distância de 4,8 quilômetros. O ponto central dessa linha imaginária é a estação Karasuma do metrô. Caminhar para leste a partir dela, em linha reta, por cerca de três quilômetros, vai dar nas montanhas de Higashiyama, passando por dentro do Santuário Yasaka. Fazer o mesmo na direção oposta leva à estação de Saiin da linha Kyoto da empresa Hankyu. Se usarmos um compasso mental para traçar um círculo a partir da estação de Karasuma englobando esses três quilômetros a leste e a oeste, tudo que os turistas procuram em Kyoto estará dentro dele. E não só isso. Boa parte dos lugares que os quiotenses frequentam também estarão lá. Não é que não tenha nada mais para ver na cidade. Tem e muito. Mas você poderia viver a sua vida inteira em Kyoto e não conhecer todos os cantinhos que valem a pena no perímetro dessa região imaginária que a gente traçou.


Para facilitar ainda mais os deslocamentos, essa Kyoto mais central foi muito bem planejada. As vias são retas traçadas nos eixos norte-sul ou leste-oeste. Não existem avenidas transversais, circulares ou fazendo zigue-zague. Kyoto é como o Batalha Naval, aquele jogo em que a gente pode localizar o navio do oponente a partir do ponto em que retas perpendiculares se encontram. Os quiotenses criaram até uma melodia (veja vídeo abaixo) para memorizar os nomes das 33 ruas que formam o eixo norte-sul e das 29 do leste-oeste e circularem com mais facilidade pela cidade. Na era do Google Maps, tudo isso é só uma curiosidade. Mas mostra que andar a pé — ou de bicicleta — em Kyoto pode ser mais fácil do que você imagina.



Foi nas andanças que eu comecei a ressignificar Kyoto. Entre uma ruela e outra, fui descobrindo lugares, encontrando pessoas e indo além do elitismo daqueles que se acreditam instituições. Com os pés no chão, temos a possibilidade de nos identificar melhor uns com os outros. Desde então, passei a fazer muitas coisas em Kyoto a pé e desta vez não foi diferente.


Chá da tarde

Já te falei que a Meg está na sua segunda temporada em Kyoto. Pedi a ela que me indicasse um lugar que eu não conhecia. A lista dela foi extensa, mas um lugar em particular foi muito recomendado. O Shuhari é uma casa de chá pouco convencional num bequinho que para nós lembraria uma vila. Chamados de roji (lê-se com o ‘r’ brando como em ‘caro’), esses becos começaram a ser criados no final do século 16, frutos do reordenamento fundiário da cidade propostos pelo domínio de Toyotomi Hideyoshi. Eles são formados por casas geminadas e, originalmente, eram áreas públicas. Muitos roji foram abandonados ao longo do tempo e somente nos últimos anos que eles vêm sendo reabilitados. O Nishijin, onde fica a casa de chá de que estamos falando, estava caindo aos pedaços até 2018, por exemplo.


Matchá com trufas de chocolate e matchá do Shuhari (foto: Roberto Maxwell)

O Shuhari serve matchá quente ou frio, além de docinhos usando este tipo de chá em pó como ingrediente. A bebida é servida através de uma janela e consumida em assentos a céu aberto, na área comum do beco. Pode parecer pouco cerimonioso e é. A ideia é justamente trazer um pouco de informalidade para o universo do chá. Além disso, a casa gosta de colocar os pingos nos is quando o assunto é a denominação de origem do matchá que ela serve. No Japão, existem algumas regiões produtoras da folha de chá e elas acabaram se tornando marcas. Em Kyoto, tudo gira em torno do chá de Uji, que virou um grande guarda-chuva para produtos de diversas áreas diferentes no entorno de antiga capital japonesa. O Shuhari deixa claro que serve somente o chá de Wazuka, uma vila de 300 famílias que produzem a planta há mais de 8 séculos. Cada produto por eles beneficiado vem de um único cultivar, do mesmo produtor sempre que possível.


Na cumbuca, o resultado de todo esse esforço é um chá delicioso, balanceado e equilibrado, muito bem batido pelas mãos habilidosas do mestre da casa. Já os doces são produzidos em parceria com chefs patissiers locais. A trufa de chocolate com matchá estava excepcional, muito balanceada e fechou super bem com o matchá. Para completar a minha felicidade, ganhei de brinde uma dacquoise de matchá simplesmente divina. “É o doce que a Meg mais gosta”, me disse o mestre. Ela me indica o local e eu ganho o presente. Gostei!


Uma noite de chuva e saquê

Fazia dias que a previsão do tempo estava anunciando chuva e nada. Naquela sexta-feira, parecia que a meteorologia também ia bichar. O dia amanheceu nublado mas com o sol estufando as nuvens, sabe? Era a minha esperança já que tinha marcado de me encontrar com o Takashi à noite. Não preciso nem dizer que viajei sem guarda-chuva, capa, blusa de manga, nada. Isso sem contar com o calçado que era de pano e tem a sola escorregadia.


Finalmente a previsão de concretizou e a garoa começou a cair logo depois de eu ter almoçado no Sugari, o meu lámen preferido na cidade. Passei o resto do dia debaixo do edredom, agora no BnA Alter Museum, um hotel de arte perto da Kiyamachi, a charmosinha área de bares à beira de um pequeno canal.


Delicioso tsukemen do Sugari (foto: Roberto Maxwell)

O Takashi é um saquê sommelier e jornalista que eu conheci na tarde de encerramento da exposição com fotógrafos brasileiros curada pela Clara Figueiredo e pelo Gabriel Kogan que estão passando uma temporada em Kyoto. Naquela mesma ocasião, ele me convidou para conhecer um bar de saquê da cidade e eu topei.


A chuva, até então forte, deu uma certa aliviada bem na hora que eu tinha que sair. Decidi encarar a garoinha e caminhar até o local do encontro. A estratégia foi evitar as calçadas, cujo piso é escorregadio, e andar com cuidado. A lentidão do passo me permitiu apreciar as luzes amarelas e vermelhas dos izakaya refletindo no asfalto molhado. Kyoto fica ainda mais bonita sob chuva.


Restaurantes na margem do Rio Kamo (foto: Roberto Maxwell)

Por sorte, quando a situação começou a aperrear de novo, eu já estava debaixo do teto do shotengai — o calçadão comercial — da Teramachi. Aliás, a área é super recomendada para quem gosta de comércio popular. Os shotengai costumam ter de tudo em termos de compra, além de uns pequenos santuários muito interessantes, alguns deles dedicados a Inari, a entidade da colheita e, portanto, da prosperidade. Se você encontrar uma raposa num santuário, Inari está ali. Também fica na área o Nishiki que é o mercado mais conhecido de Kyoto. Cheio de bancas e lojinhas com diversos tipos de comida, o Nishiki é excelente para quem curte gastronomia.


Pouco menos de 30 minutos de caminhada, cheguei à entrada do Chisou Inaseya, um corredor estreito pavimentado com pedras quadradas grandes cercadas de seixos. A iluminação amarelada dava um clima ainda mais bacana ao local. Rapidamente descobri que atravessar o corredor era a minha última prova. As pedras que serviam de passeio pareciam feitas de sabão! Depois da terceira passada, achei melhor perder toda a majestade da entrada, andar nas partes cobertas de seixos e chegar seguro no local.


Passada a porta, o Inaseya também se revelou um espetáculo. No enorme genkan, a pequena área de entrada, é hora de tirar os sapatos. (Aliás, nunca venha para o Japão com meia furada. A chance de você ter que entrar num lugar descalçado é muito grande.)


O piso da parte usada pelos clientes do restaurante fica alguns degraus acima do genkan. Mais na frente, no balcão, a gente entende o porquê. Ali, a gente se senta no piso. Mas quem está na parte de trás fazendo o serviço trabalha de pé. Quando nos sentamos, as pernas entram debaixo do balcão e, assim, a gente se senta normalmente, com os pés na altura do solo. Como muitos restaurantes e izakaya têm mesas e assentos no nível do piso, temos que nos sentar no chão, cruzando as pernas. Já dá para imaginar a cãimbra, né? Por isso, a estratégia do Inaseya, adotada por alguns izakaya e restaurantes, é bem mais confortável para o cliente e para o trabalhador, que não precisa se agachar na hora de servir as mesas.


Da entrada, vi que o Takashi já estava no local, provavelmente 10 minutos adiantado como manda a etiqueta japonesa. Ele demorou a notar a minha chegada. Mas foi rápido na escolha do saquê. Os rótulos eram quase todos das províncias de Kyoto, Shiga e Osaka, que ele conhece de cor e salteado.


Elegante e saboroso pratinho de carne do Inaseya (foto: Roberto Maxwell)

O Takashi tem um canal de degustação de saquê no YouTube e é um grande conhecedor da matéria. As descrições que ele faz das bebidas são muito precisas. Há um tempo venho pensando nisso, já que traduzir os descritivos de saquê do japonês para o português é um desafio. Conversamos um pouco sobre isso, mas rapidamente o papo tomou outro rumo: o Brasil.


Nos anos 1990, o Takashi cruzou o oceano e foi trabalhar em Belém do Pará. Ali, ele teve o primeiro contato com a cultura brasileira e, desde então, formou um interesse sobre como a cultura japonesa floresceu no Brasil. O jornalista fala com desenvoltura de restaurantes japoneses e izakayas paulistanas.


Além disso, ele conhece bem a história da produção de saquê no Brasil. Pouca gente sabe, mas temos a fábrica de saquê mais antiga do mundo em atividade, a da Azuma Kirin. O Takashi também conhece a saquerinha e acha interessante já que, no Japão, drinques com saquê ainda causam arrepios nos puristas. Ele gosta de gastronomia brasileira e está estudando português com afinco num grupo de estudos organizado em Kobe, cidade a quase duas horas de distância de casa dele. Assim, ele vai aprendendo mais sobre o Brasil e se preparando para o seu projeto de escrever um livro sobre o país.


O papo fluiu agradavelmente, embalado pela comida boa e pelos saquês, sugestões boas da casa que harmonizavam bem com pratos como o tataki de pato ao ponzu, um molho cítrico bastante usado na culinária japonesa. Um prato bem contemporâneo, muito bem apresentado e executado, servido como petisco para acompanhar alguns dos melhores saquês da região. Uma maravilha de noite, com uma companhia excepcional e mais um lugar que eu não conhecia indo direto para a minha lista de prediletos em Kyoto.


Kanpai: eu e o jornalista Eguchi Takashi (foto: Roberto Maxwell)

Caminhada montanha acima

Quando comecei a idealizar a revista Tokyo Aijo, tinha uma pessoa que eu queria muito que embarcasse comigo. Era a Mirela Mazzola que escreve textos de viagem com uma precisão incrível. Não falta nada no texto dela e isso me impressiona. A Mirela morou em Kyoto por um tempo e sempre tinha uma boa história para contar. Uma das menos afortunadas envolveu a tentativa de chegar ao Yoshiminedera, um templo budista no extremo sudoeste da cidade. O local é realmente distante e mal servido de transporte público. Resumindo a história, ela foi muito tarde e acabou chegando no templo na hora de voltar. Quando abri a caixa de perguntas no Instagram pedindo as dicas, ela cravou: Yoshiminedera. E, sim, lá fui eu desbravar o lugar que depois foi visitado pela Mirela com uma recomendação: vá cedo.


O acesso é mais trabalhoso do que difícil. É preciso tomar um trem até JR Mukomachi ou Higashimuko, a estação que for mais conveniente. Da estação, se faz o embarque num ônibus local, o 66, até a entrada do templo. A minha dica é pegar o ônibus que sai às 10:35 de JR Mukomachi (10:42 em Higashimuko) e retornar no de 14:24. Também recomendo levar lanche e água.


Íris japonesa na ponte de entrada do Yoshiminedera (foto: Roberto Maxwell)

Na viagem de ônibus já dá para perceber que a experiência vai ser diferente. Bosques de bambu e pequenas plantações dividem o espaço com fábricas, armazéns e residências. Uma parte do trajeto, inclusive, passa pela cidade de Nagaokakyo, que foi capital do Japão por um curtíssimo período de tempo, antes de Kyoto. Num dado momento, o ônibus começa a subir a montanha e isso quer dizer que estamos chegando. Yoshiminedera é um refúgio no meio da floresta.


Para visitar o templo tem que ter perna e isso já começa a ser testado na descida do ônibus. Como em Kyoto o desembarque é pela porta da frente, sair do veículo é desafiar o declive da estrada. Mas isso é só o começo. Uma pequena ponte vermelha sobre um córrego é o início do caminho que leva ao templo. A subida é íngreme e longa. Fui com calma, fotografando as flores e plantas. Foram sofridos 20 minutos que valeram muito a pena quando encarei o primeiro portal, com dois pavimentos, ricamente esculpido e com pintura branca sobre partes da madeira escurecida pelo tempo.


Sanmon, o portal de entrada do Yoshiminedera (foto: Roberto Maxwell)

Chamado de Sanmon, o portal é de 1716, mas os guardiães da entrada são mais antigos. Eles foram esculpidos entre os séculos 12 e 13 por Unkei, um famoso artista sacro. Aliás, o templo em si é ainda mais antigo. Fundado incialmente em 1029 como um local de retiro para um monge chamado Gesan, o Yoshiminedera acabou sendo destruído no século 15, durante a Guerra de Onin, um conflito envolvendo senhores feudais de várias partes do Japão.


No século 17, o templo foi reconstruido, mais ou menos com a forma atual. O salão principal é de 1692 e fica aberto ao público. Na entrada, tira-se os sapatos e pode-se visitar os espaços de oração e até fazer suas preces, algo raro em templos muito populares. Ali fica também o altar que é dedicado à deusa da misericórdia Kannon, representada por duas imagens não visíveis ao público.


Do incensário, é possível ver o altar principal do templo (foto: Roberto Maxwell)

Fora do salão principal, tem um circuito montanha acima que inclui pequenas capelas e até um santuário xintoísta. Contando com a entrada, são 18 pontos numa rota muito bem sinalizada e tranquila de fazer. Um dos destaques é o Dragão Brincante, um pinheiro que cresceu de forma inusitada, esparramado num formato de L. Atualmente com 37 metros de comprimento, a árvore de 600 anos também é chamada pelo templo de “pinheiro número 1 do Japão” .


Dragão Brincante, o pinheiro de 600 anos do Yoshiminedera (foto: Roberto Maxwell)

Ao longo da rota, as demais capelas vão se mesclando com a natureza. Jardins, torres e esculturas completam a paisagem, toda desenhada para criar um momento de devoção baseado na contemplação da beleza dos elementos naturais, paisagísticos e arquitetônicos. O Jizo da Felicidade, por exemplo, está guardado numa espécie de varanda construída numa encosta e apoiada por pilares. Tudo feito de madeira e sem pregos, como no Kiyomizudera, um dos templos mais famosos de Kyoto.


Jizo é uma entidade interessante. De acordo com os preceitos budistas, ele é um ser que já alcançou a iluminação e volta para ajudar outras pessoas no caminho. Jizo é considerado o protetor das crianças e dos viajantes. Este mini pavilhão foi construído com o objetivo de nos ensinar a pedir pela felicidade de outras pessoas.


Jizo da Felicidade no Yoshiminedera (foto: Roberto Maxwell)


Vários outros pontos poderiam ser destacados ao longo da caminhada e nem sempre é fácil entender o propósito de cada construção. Se a sua intenção é essa, recomendo que você suba com um guia. Eu mesmo poderia ser essa pessoa. Mas, mesmo que você não esteja acompanhado de um especialista, procure sentir o lugar, observar as formas das estruturas, as cores e a integração com a natureza. Tem alguns jardins no trajeto, com flores que mudam ao longo das estações. E no final do outono, o caducar das folhas é belíssimo na região.


Duas horas depois de iniciar a subida, cheguei no Yakushido, uma capela no último ponto do circuito. Dali, é possível ter uma vista privilegiada da cidade. Vista do alto, bem de longe, Kyoto até parece um povoado cercado de verde. Se pensarmos bem, a antiga capital, com seus cerca de 1,5 milhão de habitantes, é até pequena diante do gigantismo de Tóquio. Mas nenhuma cidade japonesa carrega tanto em si os pesares e as fortunas de um país cheio de contradições como o Japão. São os ossos do ofício de ter sido por mil anos a capital e, por isso, ter muita história para contar.


Serviço
Como chegar em Kyoto?

A melhor forma de chegar em Kyoto é de trem-bala. A estação central da cidade é uma das principais da linha Tokaido Shinkansen. São duas horas de viagem partindo da estação de Tóquio. Se você vem do Aeroporto Internacional de Kansai, trens expressos da companhia JR West têm conexão direta com a estação de Kyoto. A viagem dura cerca de uma hora mas os três são esparsos. Considere pegar um ônibus, que é confortável e faz o mesmo trajeto.


Como circular em Kyoto?

A maior parte dos trajetos em Kyoto pode ser feita de ônibus. Neste caso, considere comprar um passe de um dia. Ele custa ¥700. Como cada viagem de ônibus costuma custar ¥230, se você for fazer quatro viagens no dia vai estar no lucro.


Antes da pandemia, os ônibus para os pontos turísticos estavam sempre lotados. Nada me faz acreditar que vai ser diferente depois. Por isso, considere fazer roteiros a pé e de bicicleta. O Google Maps funciona muito bem no Japão. Em alguns casos, porém, é possível que o local de entrada indicado pelo aplicativo esteja errado. Isso ocorre em muitos becos, por exemplo. Sendo assim, procure a entrada nas ruas laterais.


Quanto às bicicletas, alguns hotéis oferecem magrelas por diárias bem em conta ou mesmo inclusas no preço da hospedagem. Não sendo o caso, opte pelos serviços de locação por aplicativo. O Pippa funciona em Kyoto e outras cidades e tem preços bem razoáveis. Você deve habilitar o seu cartão de crédito no app e fazer recargas para continuar usando. As bicicletas não são elétricas e só podem ser devolvidas nos pontos autorizados. Também é possível alugar bicicletas em lojas por preços melhores.


Também é possível circular em Kyoto por táxi, claro. No entanto, as tarifas são bem mais altas que no Brasil. Os taxistas costumam ser solícitos, mas raramente entendem outros idiomas. Quase sempre são senhores idosos. Então, quando for apresentar o endereço ou nome do local de destino, procure tê-lo em japonês e em letras grandes.


Onde ficar?

Kyoto tem uma rede hoteleira bem grande. Porém, na alta temporada (final de março e início de abril/final de outubro e início de novembro), reservar hoteis mais baratos costuma ser difícil. Faça sua reserva o quanto antes. Nesta viagem, eu me hospedei nos seguintes espaços:


Offsait Studio (temporariamente fechado): ateliê, loja e acomodação tocados pelo Takuji e pelo Onur.


BnA Alter Museum: hotel de arte com quartos planejados por renomados artistas japoneses. “Foi divertido. Gostamos da localização, das exibições que estavam rolando e tudo mais”, diz o Fabio Akamine da Nanka Store, uma loja virtual de camisetas com o Japão como tema, que fez a indicação. Indico escolher os quartos com bastante critério já que as obras podem interferir no sono.


Pagong With M’s: hospedagem localizada próximo da estação de Omiya da linha Hankyu. Quartos no estilo clean, bem iluminados e com bom preço num bairrozinho mais local.


Onde ir?

Além dos locais citados no texto principal, segues aqui outros destaques da viagem. Todos os locais estão no mapinha maroto, aqui.


Loco Chicken: pequenino restaurante especializado em frango frito no estilo karaage, com uma pegada havaiana e mexicana. Ótimo para levar para casa, embora se possa comer no local.


Menya Shoji: restaurante de lámen fora da rota, mas perto do santuário Heian Jingu, especializado em sopas e outros preparos com peixes. O lámen de salmão foi uma indicação do Gabriel Kogan e vale super a pena.


Waguri Senmon Saori: “incrível”, diz o Marcelo Lorenzen, no Instagram, sobre este espaço especializado em doces de kuri, a castanha japonesa. Quem gosta da oleaginosa não vai se decepcionar com o Kinshi Monblanc Sha, um espetáculo de preparos com a castanha finalizado com fios cremosos e uma folhinha de ouro. Saboreie com o matchá. O Marcelo recomenda, também, uma tacinha de champagne.


Lorimer Kyoto: pequeno restaurante especializado em preparos com peixes localizado numa ruela escondidinha. A casa abre super cedo, às 8, para o café da manhã. Indicação da amiga e guia Meg Yamagute que foi apresentada ao espaço pelo amigo Matt. Do balcão, você corre o risco de ver as marinadas preparadas com muito esmero pelos chefs com ervas, frutas e outros temperos. Escolha o prato feito (teishoku), com a opção com bolinho de arroz onigiri. Delícia!


Prato feito do Lorimer Kyoto: ainda acompanha arroz ou onigiri e sopa de missô (foto: Roberto Maxwell)

Picaro Eis: pequena sorveteria em um roji localizado entre o Rio Kamo e o Kiyomizudera. Além do espaço aconchegante e minúsculo numa antiga casa de beco, os sabores inusitados são o destaque.


D&Department Kyoto: lojinha de produtos diversos, localizada dentro do templo Bukkoji e focada no conceito de long life design, ou seja, nada de cacarecos que você usa e joga fora. Tem muita coisa interessante de artesanato local e produtos de design, além da revista bilingue Design Travel que é editada pela loja e dá dicas interessantes de viagem. O editor costuma viver na província retratada na edição por três meses e compilar as dicas de lugares com os moradores. Ele visita cada local e faz uma resenha, mostrando o lado humano dos produtos e serviços oferecidos aos viajantes.


Ginjo Ramen Kubota: delicioso restaurante de lámen localizado próximo à Shimabara. A especialidade da casa é missô e o tsukemen (macarrão e caldo servidos separadamente) da categoria é divino. A Mirela, que morou perto do local e fez a indicação, concorda. “Amava o tsukemen de lá”, diz ela.


Santuário Go’o: dedicado a um antigo burocrata importante no processo de fundação de Kyoto, o espaço se destaca pela onipresença dos javalis, um animal comum nas montanhas do Japão. Diz a lenda que o cara foi exilado da capital depois de ter ido contra os interesses do imperador. Além do castigo, ele teria tido os tendões das pernas cortados e acabou jogado na mata, onde teria sido salvo por javalis. Assim, o santuário reverencia os animais e ainda é o local para fazer preces em prol da saúde das pernas. Arquitetonicamente, o espaço também é bem charmoso. Não muito distante dele fica o Palácio Imperial de Kyoto.


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