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Foto do escritorThiago Fernando Silva

Além do vale

Atualizado: 8 de out. de 2021

Vibrante reduto gay da capital japonesa, Shinjuku Nichoume é um oásis no país que ainda enfrenta questões relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual


Ilustração: Renata Cabrera, sobre foto de Roberto Maxwell

Shinjuku Nichome é o mais popular reduto LGBTQIA+ de Tóquio. Ao contrário dos bairros gays fervidos de São Paulo e Nova York, por exemplo, que enfileiram bares e baladas enormes, em Nichome a noitada é vertical. São mais de 100 bares de diferentes temáticas registrados, normalmente em salas comerciais de prédios.


A maioria dos bares é pequena e acomoda entre 10 e 15 pessoas. O clima intimista permite sentar no balcão e engatar uma conversa com a mama-san, apelido carinhoso do proprietário ou proprietária, que costuma fazer de tudo para deixar os clientes confortáveis (o copo cheio está entre os mimos garantidos). Falo mais sobre o clima do bairro na revista mas, noitadas de Nichome à parte, a comunidade LGBTQIA+ no Japão ainda enfrenta questões de identidade de gênero e orientação sexual, principalmente as relacionadas à aceitação social.


O país é aberto às excentricidades, como a moda cosplay, mas muitos cidadãos não se sentem confortáveis para sair do armário no ambiente de trabalho, na família e mesmo entre amigos. Ainda que de forma sutil, a indiferença e outras manifestações de discriminação são perceptíveis. O casamento homoafetivo não é legalizado nacionalmente, embora alguns distritos e municípios reconheçam a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Em recente decisão, um tribunal da cidade de Sapporo, no norte japonês, decidiu que a negação do direito ao casamento de pessoas homoafetivas é ilegal, abrindo uma jurisprudência sobre a matéria. Com algumas limitações, a situação das pessoas transgênero também é reconhecida, com a alteração de gênero em documentos sendo feita sem muitos transtornos do ponto de vista legal. A principal questão na alteração de gênero se refere a pessoas que tenham filhos. Embora com o preconceito à espreita, a segurança que permeia o país se estende a pessoas LGBTQIA+ – diferentemente do Brasil, país que mais mata travestis e transsexuais no mundo, no Japão não se teme pela integridade física ou moral apenas por ser gay. Sempre fui tratado com respeito, inclusive no trabalho. Sinto que posso sair à noite e andar na rua sem medo de sofrer algum ataque, com orgulho e liberdade. Quando perguntado se encontro dificuldades aqui pela minha homossexualidade, respondo que não sei se foi sorte, mas que nunca fui tão livre e me senti tão seguro. Nesse sentido, o Japão pode ser um paraíso no vale da comunidade LGBTQIA+, por onde nem sempre é fácil caminhar.

 

Thiago Fernando Silva é coordenador de relações internacionais do governo japonês. Deslumbrado pela cultura e pelo idioma nipônicos desde os 5 anos, hoje realiza seu sonho vivendo no Japão.


Leia mais sobre Shinjuku Nichome, com dicas de bares e baladas, no artigo de Thiago Fernando Silva na edição 1 de Tokyo Aijo. Inscreva-se e acesse a primeira edição de Tokyo Aijo aqui.

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